Um dos capítulos mais importantes da história da música brasileira atual não teria sido escrito sem a participação de Francisco de Assis França. Morador do bairro do Rio Doce, na periferia de Olinda, nos anos 70, ainda moleque catava caranguejos no mangue a fim de arranjar alguns trocados para os bailes - onde aprendeu a gostar de James Brown, Grandmaster Flash e Kurtis Blow.
O interesse pela música negra norte-americana foi o passaporte para sua entrada no grupo de dança de rua Legião Hip Hop e o conseqüente surgimento das bandas Orla Orbe e Loustal, esta última uma parceria com o guitarrista Lúcio Maia e o baixista Alexandre Dengue.
No início de 1991, o trio entrou em contato com o bloco afro Lamento Negro, cujo forte traço percussivo chamou sua atenção. A partir daquele momento, a música de raiz - maracatu e coco de roda - encontraria eco na sonoridade do hemisfério norte.
Do mangue para o mundo
Chico Science soube costurar ritmos brasileiros como nunca tinha sido feito antes: com funk, dub, jungle, rock e rap, criando a partir desse amálgama de referências uma identidade própria que se tornou o motor do turbilhão musical que surgiria em Recife na década de 90. O primeiro show do grupo Chico Science e Nação Zumbi - com Toca Ogan (percussão), Canhoto (caixa), Gira (tambor), Gilmar Bola 8 (tambor) e Jorge Du Peixe (tambor) na formação, além do próprio Chico nos vocais, Lúcio na guitarra e Dengue no baixo - aconteceu em junho de 91, no Espaço Oásis, em Olinda. Logo, Canhoto deixaria a banda e Pupillo assumiria as baquetas.
Três apresentações em São Paulo e em Belo Horizonte e alguns poucos anos depois, a banda gravaria o disco de estréia, "Da lama ao caos" (1994), produzido por Liminha e lançado pela Sony. Em "Afrociberdelia" (1996), o grupo assumiu o controle da produção. O disco tinha participações de Gilberto Gil, Fred 04 e Marcelo D2 e deixou mais claro o flerte da CSNZ com a música eletrônica, apontando para uma sonoridade totalmente nova.
Esse frescor que brotava da cena local veio acompanhado do manifesto mangue bit, escrito por Chico Science e Fred 04 (Mundo Livre S/A) e outros autores intitulados "caranguejos com cérebro". O texto, que era distribuído como release dos shows, logo caiu nas graças da mídia e se tornou a certidão daquele "movimento" que nascia e já andava com as próprias pernas. Carismático, Chico conseguiu sintetizar de forma ímpar todas aquelas mudanças no panorama cultural de sua cidade, no papel e principalmente fora dele.
Adeus precoce
O homem de frente da Nação Zumbi e um dos principais catalizadores da mudança perdeu a vida precocemente, pouco antes de completar 31 anos, em um acidente de carro no trajeto entre Recife e Olinda. Em setembro de 2004, a Fiat foi condenada a pagar indenização por danos morais e materiais à família do artista. O advogado, Antonio Campos, se baseou no Código de Defesa do Consumidor, alegando quebra do cinto de segurança e falhas estruturais do carro durante o acidente.
Em janeiro de 2007, chegou ao fim o processo que a família de Chico Science movia contra a fábrica de automóveis. Os valores do acordo não foram divulgados, mas sabe-se que foi menor do que os R$ 10,00 milhões que pretendiam os advogados da família França, incluindo a filha de Chico Science, Louise Tainã, de 16 anos.
A trajetória meteórica daquele "cientista de ritmos" transformou o músico em ícone imaginário. E a história da banda recomeçou em 2000, com Du Peixe assumindo a composição das letras e os vocais em "Radio S.amb.A". Com essa formação, a banda deu continuidade a um trabalho sempre original, presente nos álbuns "Nação Zumbi" (2002) e "Futura" (2005). Nos shows, Du Peixe, Lúcio Maia e companhia ainda tocam hinos da época de Chico, como "Maracatu atômico" e "Manguetown".
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