Dez minutos de jogo resumem a desastrada estreia de ‘Super Mario Run’, da Nintendo

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O jogo de estreia da Nintendo para smartphones não está se revelando uma sensação.

Desde seu lançamento para dispositivos Apple, Super Mario Run foi arremessado ao topo das listas de downloads em mais de 100 países conforme dezenas de milhões celebraram a chegada ao iPhone do icônico personagem de video game. Contudo, problemas emergiram quase imediatamente, com milhares reclamando vigorosamente que os três níveis disponibilizados com o download gratuito terminaram muito rápido – em menos de 10 minutos na maioria dos casos – e o preço de dez dólares para desbloquear o restante era excessivo.

A reação negativa agora está reverberando por através dos preços das ações da Nintendo, com seu valor na bolsa caindo 11% nos dois dias de funcionamento dos mercados desde o lançamento do jogo, exterminando mais de 3,5 bilhões em valor de mercado. Investidores e analistas estão começando a duvidar das decisões da empresa e de sua habilidade de desempenhar bem em dispositivos móveis.

“Um custo de 10 dólares de antemão para desbloquear o jogo é um pedido enorme e um que vai de encontro à prática corrente de jogos para celular serem gratuitos para jogar”, disse Daniel Ahmad, analista e pesquisador da consultoria de negócios para videogames na Ásia Niko Partners. “Os primeiros três níveis não são muito longos e a tela de pagamento não parece deixar abundantemente claro o que é que o usuário está levando em troca pela compra de 10 dólares.”

Esses comentários basicamente ecoam a reação online. Mais de cem mil usuários postaram avaliações nas App Stores da Apple nos Estados Unidos, no Japão e em outros países, ranqueando o jogo em 2,5 estrelas de cinco. Isso está entre as avaliações mais baixas para aplicativos no topo das listas de downloads, e abaixo de outros jogos, tais como Clash Royale, Candy Crush Saga ou Monster Strike.

Bolas de fogo

Além do preço alto, as avaliações se concentraram na decisão da Nintendo de exigir uma conexão com a internet, com muitos reclamando que não podiam jogar durante o trajeto entre suas casas e o trabalho. Outros disseram que a jogabilidade super simplificada removeu aspectos que são pilares dos jogos de Super Mario em consoles, tais como bolas de fogo.

“As avaliações negativas não ocorreram necessariamente porque o jogo é ruim”, disse Eliran Sapir, chefe da consultoria de negócios para dispositivos móveis Apptopia. “É uma combinação do preço alto com fãs não terem gostado do veículo.”

Sapir disse que a propaganda boca-a-boca negativa pode impactar o potencial de lucro do jogo. Enquanto o jogo tornou-se aquele com maior faturamento na maioria dos países, chegou apenas ao terceiro lugar no Japão – o maior mercado do mundo para aplicativos, de acordo com a consultoria de mercado App Annie. Isso acrescenta ao risco de que possa ficar abaixo das expectativas dos analistas. A financeira Nomura Holdings estimou que o jogo deve gerar 36 bilhões de yenes (306 milhões de dólares) até o fim de março, enquanto a Macquerie Securities vê 200 milhões de dólares no mesmo período.

O rebuliço negativo pode prejudicar particularmente as vendas para o grupo muito maior de usuários de Android, que não ganharão uma versão do jogo até um momento indeterminado do ano que vem.

Construção de reinos

Mesmo entre aqueles que pagaram 10 dólares pela experiência completa no iOS da Apple, uma queixa comum foi a falta de incentivos para continuara a jogar por mais tempo. A jornada para resgatar a Princesa Peach pode ser completada em cerca de duas horas e a partir de então o jogo encoraja os usuários a percorrerem fases já completadas em níveis maiores de dificuldade e a correrem contra outros jogadores. Itens que eles ganham são ao fim utilizados em Kingdom Builder, um modo de jogo sem fim em que jogadores podem construir um pequeno vilareja para chamar de seu.

O problema, dizem usuários, é que construir reinos é um negócio superficial. A pequena variedade de itens para comprar e o tamanho limitado do mapa significa que a maioria dos vilarejos não varia muito de jogador para jogador. Isso fica muito atrás de outros jogos tais como Pokemon Go, em que um alto número de monstros, cada um com características singulares, tornou capturá-los todos uma experiência altamente personalizada. Em comparação, Super Mario Run faz pouco para que os itens do Kingdom Builder pareçam qualquer coisa além de objetos inanimados.

Sentimento amargo

Tudo isso levanta questões a respeito de se a Nintendo entende fundamentalmente o que é que jogadores de smartphone querem, mesmo conforme se junta com a empresa especializada em jogos para celulares DeNA para produzir novos títulos.

Desde anunciar sua expansão para smartphones em março de 2015, investidores levaram as ações a uma alta de 74% na promessa de que a empresa com sede em Quioto pudesse trazer sua maestria nos jogos para as mãos dos 2,3 bilhões de usuários de smartphones no mundo. As decisões que geraram Super Mario Run, e a reação dos usuários, estão fazendo alguns reavaliarem essas convicções.

“Neste momento está no topo dos rankings, mas as pessoas estão prevendo que caia rapidamente”, disse Hideki Yasuda, analista da consultoria de mercado Ace Research Institute.

Para o analista Serkan Toto, o verdadeiro teste é o que a Nintendo fará em seguida. Para reverter o sentimento amargo, a empresa deve anunciar conteúdos adicionais para dar mais profundidade à jogabilidade. Enquanto uma mudança no sistema de preços também seja possível, a Nintendo evitou baixar preços de seus produtos no passado.

“Haverá mais mundos, mais fases e talvez também em algum momento no futuro uma quebra do atual modelo de negócios”, disse Toto, fundador da consultoria Katan Games. “É só a primeira versão do primeiro jogo de verdade deles.”