Terra Vermelha: aculturação e tentativas de resistência da cultura indígena| Foto: Divulgação

Maria de Medeiros e a canção brasileira

A atriz e cineasta portuguesa Maria de Medeiros foi uma das homenageadas na cerimônia de abertura da 32ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Estrela de filmes como Henry e June (de Philip Kaufman), no qual viveu o papel da escritora francesa Anaïs Nin, e Pulp Fiction – Tempo de Violência (Quentin Tarantino), ela faz o show de encerramento da mostra em 30 de outubro.

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São Paulo - Nem o governador José Serra nem o prefeito Gilberto Kassab compareceram à cerimônia de abertura da 32ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, que ocorreu quinta-feira no Auditório do Ibirapuera, e exibe mais 450 filmes até 30 de outubro. Ambos eram aguardados no evento, já que o governo estadual e a prefeitura da capital paulista são importantes apoiadores do festival. Tanto um quanto o outro, porém, foram atropelados por acontecimentos da vida real.

Serra, cinéfilo assumido e habitué da Mostra, lidava com o confronto entre policiais civis – em greve por melhores salários – e militares nas imediações do Palácio dos Bandeirantes. O enfrentamento entre as duas polícias estaduais deixou 23 feridos e irritou o governador, que atribuiu o incidente "a interesses eleitoreiros a poucos dias do segundo turno" do pleito municipal. Candidato do DEM à reeleição à prefeitura, Kassab "cumpria afazeres de campanha", segundo o secretário municipal de Cultura, Carlos Kalil, que o representou na abertura.

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Ironicamente, o longa-metragem escolhido para inaugurar a Mostra, a co-produção ítalo-brasileira Terra Vermelha, obra de alto teor político, certamente teria intrigado tanto o governador quanto o prefeito. O filme, dirigido pelo chileno Marco Bechis (do ótimo Garagem Olimpo) e co-escrito por ele e pelo roteirista paulista Luiz Bolognesi (de Chega de Saudade e Bicho de 7 Cabeças), retrata o processo de aculturação galopante dos índios guarani-kaiuwá no Mato Grosso do Sul. Confinados em uma reserva da Funai, eles vêem sua floresta ancestral pouco a pouco ser derrubada para dar espaço a extensas áreas pastagens em grandes propriedades particulares.

Consumidos pelo alcoolismo e pela absoluta falta de perspectivas, ganham trocados "posando de selvagens", como atores de si mesmos, para turistas estrangeiros que visitam a área e também fazem bicos nas fazendas da região em época de colheita.

Quando duas jovens da reserva se suicidam na floresta, num ato extremo que vem ocorrendo cada vez com maior freqüência entre os índios, um grupo decide abandonar as terras que lhes foram destinadas pelo governo federal e retornar ao local onde seus antepassados estão enterrados, hoje ocupado pela propriedade de um rico latifundiário, vivido por Leonardo Medeiros (de Não por Acaso e atualmente no ar em A Favorita). A decisão tem conseqüências trágicas.

Libelo poderoso a favor da causa indigenista, Terra Vermelha – elogiado na mostra competitiva do Festival de Veneza deste ano – vai bem além do cinema engajado, voltado à defesa dos direitos humanos. É politicamente correto numa certa medida, mas não maniqueísta ou ingênuo.

Muita da sua força vem do roteiro, que dá complexidade aos personagens, sobretudo àqueles vividos com desenvoltura por índios da região. Esse impacto também vem da problematização da situação de penúria dos nativos, divididos entre as tradição de sua cultura original e a "civilização" do homem branco, representada por tentações como telefones celulares, motocicletas e carne de vaca, animal considerado inimigo pelo xamã da tribo por também ser um "invasor". O longa estréia no Brasil em novembro.

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