Quando era uma adolescente, Alice Dayrell escreveu um diário em que registrava, com uma visão ácida e crítica, a sociedade de Diamantina do fim do século 19, logo após a Proclamação de República, uma época em que a cidade mineira já vivia a decadência do ciclo do ouro que a tornara rica e desenvolvida. O caderno ficou guardado por muitos anos, sendo redescoberto pela autora e publicado em livro, sob o pseudônimo de Helena Morley, apenas em 1942, quando ela tinha 62 anos.

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Para sua surpresa, a obra Minha Vida de Menina – O Diário de Helena Morley virou um best seller, traduzido para vários idiomas (a versão em inglês é da reconhecida poeta Elisabeth Bishop), e chegou no ano passado ao cinema pelas mãos da diretora Helena Solberg. Vida de Menina foi o grande vencedor do Festival de Gramado 2004, recebendo seis kikitos (melhor filme pelos júris oficial e popular, roteiro, fotografia, trilha sonora e direção de arte). A produção foi lançada neste semestre nos cinemas e estréia hoje no Cine Novo Batel, em Curitiba.

A fita marca a estréia de Solberg, experiente documentarista (seu filme mais conhecido na área é Banana is My Business, sobre Carmem Miranda), no cinema de ficção. A diretora realiza um trabalho coeso e sem grandes pretensões cinematográficas, partindo de uma boa parte técnica, com destaque para a reconstituição de época – utilizando-se das construções e do ambiente de Diamantina, cidade hoje tombada e onde o longa foi totalmente rodado.

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A cineasta também elaborou o roteiro (ao lado de Elena Soárez) e respeitou a estrutura do diário de Alice, organizando a história através de episódios, sem se prender muito a um encadeamento da trama. Não é um filme espetacular, desses que vão marcar a história do cinema brasileiro, mas é uma produção agradável de acompanhar, sensível, mostrando uma personagem central forte e instigante.

Quem defende muito bem o papel de Helena Morley é Ludmila Dayer. A atriz surgiu no cinema interpretando a jovem Carlota Joaquina no filme homônimo de Carla Carmuratti, considerado o marco zero da chamada retomada do cinema nacional. Ludmila ainda trabalhou no longa Traição, no episódio "Diabólica", dirigido por Cláudio Torres (Redentor). Na tevê esteve em Malhação e, recentemente, na novela Senhora do Destino, vivendo a personagem Danielle, candidata à celebridade. Mas seu melhor trabalho até hoje, tanto na telona como na telinha, é a interpretação em Vida de Menina. Com idade próxima à da personagem durante a época das filmagens, Ludmila dá veracidade ao trabalho, sabendo contrastar a rebeldia e a sensibilidade de Helena.

O elenco ainda conta com os atores globais Dalton Vigh (que protagoniza o longa paranaense Corpos Celestes, de Fernando Severo e Marcos Jorge, em fase de produção) e Daniela Escobar como os pais da protagonista, em interpretações contidas, mas competentes. GGG