Apesar do título, há pouca ou nenhuma confusão em Assessora de Encrenca (Ediouro, 240 págs., R$ 34,90), livro em que a assessora de imprensa Gilda Mattoso relata sua convivência de quase 30 anos com os medalhões da MPB. Até porque discrição é uma moeda forte nesse meio, e ninguém vai jogar uma carreira pela janela só para satisfazer à tentação de contar umas fofocas por aí.
Sendo assim, as raras histórias de fôlego dividem espaço com intimidades nem sempre interessantes sobre o dia-a-dia dos artistas (leia trecho ao lado). A não ser que alguém realmente se importe com o fato de que Caetano Veloso gosta de dormir com o quarto bem escuro. Ou queira saber o que Djavan e a mulher comeram num restaurante tailandês de Paris. Resta, então, uma ou outra passagem divertida, como o bate-boca de Renato Russo com intelectuais italianos, as grosserias de Elis Regina em terras francesas e as estripulias do secretário pessoal de Ney Matogrosso.
A boa vida dos astros brasileiros em suas excursões internacionais (com Gilda a tiracolo) consomem praticamente todo o livro, cujo título veio de uma brincadeira da filha da autora. Caetano, Gil e companhia realmente se comportam como embaixadores da cultura nacional, e não dispensam uma boca livre na alta roda européia, em meio a intelectuais, artistas, socialites e governantes.
Mas nem tudo é moleza quando se precisa atravessar países em questão de horas e carregar músicos e equipamentos para lá e para cá. É aí que Gilda entra em cena, muitas vezes extrapolando as funções normais de um assessor de imprensa para se converter em quebra-galhos de luxo.
Nascida em Niterói (RJ), ela desde cedo apresentou uma grande facilidade para aprender línguas e, acima de tudo, fazer amizades. Logo saiu do Brasil rumo à Inglaterra, para ajudar a família de seu irmão, militar recém-transferido para uma base da Marinha. Em 1975, quando a missão acabou, Gilda não retornou ao país. Conseguiu um emprego numa papelaria de luxo londrina e lá travou seus primeiros contatos com famosos (gente como Ava Gardner, Frank Sinatra e Fred Astaire).
Mais tarde, mudou-se para a Itália, onde estudou o idioma local e acompanhou os artistas brasileiros contratados por Franco Fontana, empresário conhecido por organizar shows de MPB na Europa. Também morou na França, fazendo de tudo um pouco para sobreviver. Foi babá, professora particular de Português, backing vocal em gravações de gosto duvidoso... Mas os trabalhos com Fontana continuaram, e num deles Gilda se envolveu e casou com Vinicius Moraes, seu ídolo desde a adolescência.
Trinta e oito anos mais jovem do que Vinicius, Gilda foi a última mulher e "viúva oficial" do poeta (que, segundo o livro, odiava ser chamado de "Poetinha"). Viveu apenas dois anos com ele, entre 1978 e 1980, mas herdou alguns de seus melhores amigos. Por essas e outras, foi parar nos escritórios da gravadora Polygram (atual Universal), que a contratou como uma espécie de "aspone", como ela mesmo admite. "Alguém me dizia que a filha do Moraes Moreira estava fazendo aniversário. E lá ia eu comprar um presentinho em nome da gravadora", exemplifica.
Aos poucos, Gilda conquistou a confiança dos artistas e penetrou em suas intimidades. Que o digam as fotos de seu arquivo pessoal publicadas no livro. São 75 imagens, em que a autora aparece ao lado de figurões do porte de Tom Jobim, Sting, Cazuza, Chico Buarque, Milton Nascimento, Gal Costa, Erasmo Carlos, Rita Lee, Ney Matogrosso, Maria Bethânia e até o cineasta espanhol Pedro Almodóvar, seu amigo e responsável pelo texto de apresentação de Assessora de Encrenca.
Demitida da Polygram em 1989, Gilda fundou sua própria empresa de assessoria, em sociedade com Marcos Vinícius dos Santos outra figuraça da cena carioca que também merecia contar suas história em um livro. De lá para cá, intensificou ainda mais o contato com os astros da música, agregando à sua carta de clientes nomes em voga nos últimos anos, como Zeca Pagodinho, Afro Reggae e Maria Rita.
Sobre a filha de Elis, nenhuma linha. O que é uma pena, pois Gilda já trabalhava para ela quando estourou a "polêmica dos iPods" (para quem não lembra, a gravadora Warner foi acusada de praticar "jabá" ao presentear alguns jornalistas com o famoso tocador de MP3, no evento de lançamento do segundo CD da cantora). Essa, sim, uma encrenca das boas.
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