Ninguém discute que Anthony Hopkins seja um dos grandes atores em atividade no cinema mundial. Acontece que, desde sua consagração como Hannibal Lecter, o psiquiatra canibal de O Silêncio dos Inocentes, o galês vem alternando grandes interpretações a participações esquecíveis, senão canastronas, em filmes igualmente pífios.

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Por conta dessa irregularidade na sua carreira, um título como Desafiando os Limites pode despertar uma certa desconfiança no cinéfilo mais atento que se deparar com o DVD na seção de lançamentos de uma locadora. Está certo, Hopkins pode ser uma espécie de "selo de qualidade" por um lado. Mas. por outro, também pode sinalizar forte probabilidade de decepção. Assim como Os Amores de Picasso (de James Ivory), Instinto (de Jon Turteltaub) ou No Limite (de Lee Tamahori), três exemplos de longas-metragens sofríveis estrelados pelo veterano.

Portanto, é com um misto de surpresa e prazer que se assiste a Desafiando os Limites, título genérico em português de The World Fastest Indian, produção dirigida pelo australiano Roger Donaldson (de Sem Saída e Treze Dias). Hopkins, em ótima forma, vive o papel do aventureiro neozelandês Burt Munroe, que toma a decisão mais importante de sua vida ao resolver quebrar o recorde de velocidade esportiva, montando uma clássica motocicleta dos anos 20, conhecida como Indian, numa região inóspita do Oeste Americano.

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Menos sobre motociclismo do que a respeito da capacidade do indivíduo, pouco importando a idade que tenha, de superar barreiras, Desafiando os Limites é um filme inspirador. Principalmente por fugir de clichês comuns a esse gênero de enredo. Consegue não ser piegas e edificante demais, muito por conta da complexidade com que o o roteiro, também assinado por Donaldson, e a interpretação de Hopkins constroem o protagonista.

Excêntrico, hippie, meio surdo, portador de uma doença da próstata e dono de um temperamento bizarro, ainda que carismático, Burt Munroe é uma espécie de Rocky da terceira idade. A seu favor em comparação ao pugilista vivido por Sylvester Stallone, a ausência de um discurso nacionalista e edificante. Ele é, no fundo, um existencialista.

Outro aspecto interessante na história é a forma como Munroe se relaciona com sua motocicleta, que, apesar de inanimada, tem a importância de um personagem. Ela é a grande parceira do corredor, que com ela conversa, briga e discute, fazendo lembrar vagamente a relação de Tom Hanks com a bola de basquete Wilson em Náufrago.

Como Donaldson já havia realizado um documentário sobre Munroe, Desafiando os Limites parece ser mais preciso e realista do que a maior parte das produções que se orgulham de ser "baseadas em fatos reais". Também vale pela ótima fotografia de David Gribble, que consegue contrapor a vestidão da paisagem onde boa parte da trama se desenrola com o confronto íntimo e pessoal vivido pelo protagonista. GGGG