Ambientalistas e agropecuaristas marcam posição em lados opostos quando o assunto é a forma de utilização da terra, mas um ponto de consenso pode resolver esse impasse: o argumento de que a preservação ambiental representa dinheiro no bolso, tanto no curto quanto no longo prazo, começa a virar o jogo a favor do desenvolvimento sustentável. O discurso ambiental agora não se foca mais apenas em assuntos complexos e abstratos, como a necessidade da proteção do equilíbrio ecológico, mas muito mais em aspectos imediatos, quando aponta os benefícios disponíveis para quem protege a natureza.
Esse discurso ganha fôlego em um estado essencialmente agrícola como o Paraná e ocupa espaço nas discussões paralelas da 8.ª Conferência das Partes da Convenção de Diversidade Biológica (COP8), que termina amanhã. A The Nature Conservancy (TNC), organização não-governamental que tem braços no estado, aposta alto na possibilidade de conseguir retorno financeiro para os produtores rurais por meio da venda de direitos sobre reserva legal segundo a lei, os proprietários devem ter 20% da extensão da terra ocupada por mata preservada. Para escapar da punição, quem não cumpre a porcentagem poderia "comprar" mata nativa dos proprietários que superam a exigência legal, embora a posse da terra continue com o dono original. O Paraná é pioneiro nesse sistema, apontado como um grande negócio pela representante da TNC no Brasil, Ana Cristina Barros. Ela lembra que há muita gente precisando comprar reserva legal. Basta dizer que restam apenas 7% da Mata Atlântica, mas deveria existir no mínimo 20%, se a lei estivesse sendo cumprida. Esse déficit é a prova da demanda, argumenta. Além disso, a reserva legal não precisa ser um espaço ocioso e improdutivo, pois a legislação permite atividades como a ação extrativista sustentável, a cessão para pesquisa e o uso para ecoturismo.
A agricultura ainda pode sofrer, no longo prazo, os impactos negativos da redução de biodiversidade, ou sentir os efeitos positivos da proteção ambiental. O diretor de políticas públicas do Greenpeace, Sergio Leitão, reforça que o equilíbrio ecológico representa menos custos de produção, como investimentos em irrigação e fertilização do solo. Já os malefícios são visíveis. As mudanças climáticas, ligadas ao desgaste ecológico, afetam diretamente o setor agrícola. "Eu já vi voçorocas de sete quilômetros. Isso é terra, propriedade que foi perdida", reforça Ana Cristina, lembrando os efeitos que a erosão provocada pelo desmatamento pode causar.
Apesar da relação entre homem e natureza ser indissociável principalmente para o agricultor, as noções de preservação ambiental ainda sofrem a pressão capitalista. O assessor da presidência da Federação da Agricultura do Estado do Paraná (Faep), Carlos Augusto Albuquerque, reconhece que o produtor rural começa a despertar para a necessidade de preservação ambiental, mas ainda quer ver o verde do dinheiro. Nessa situação, o agricultor ainda vê a reserva legal como a renúncia obrigatória a um em cada cinco hectares, e isso só vai mudar quando realmente houver compensação pela proteção ambiental.
Trump barra novos projetos de energia eólica nos EUA e pode favorecer o Brasil
Brasileiro que venceu guerra no Congo se diz frustrado por soldados que morreram acreditando na ONU
Não há descanso para a censura imposta pelo STF
Tarcísio ganha influência em Brasília com Hugo Motta na presidência da Câmara
Deixe sua opinião