Opinião
Se você gosta do Capital, vai se divertir com Black Heart. Se não, passe longe!
Há duas maneiras de ouvir Black Heart, o mais novo álbum solo de Dinho Ouro Preto que vão interferir diretamente na sua percepção: se você for fã do Capital Inicial; ou, por outro lado, se não suportar o vocalista ou a banda.
Para os admiradores de Dinho e do Capital, Black Heart será bem-recebido. O vocalista imprime o seu estilo e consegue dar uma unidade estética ao projeto, mesmo reunindo composições tão díspares quanto "Suspicious Minds" (conhecida na voz de Elvis), "Steady as She Goes" (Raconteurs)" e "Nothing Compares 2 U" composta por Prince e lançada por Sinéad OConnor.
E até que não faz feio nas músicas mais próximas ao seu registro vocal, como "Hallelujah" (Leonard Cohen), "Dancing Barefoot" (Patti Smith) ou "Are You the One That Ive Been Waiting For" (Nick Cave). Além disso, pode-se levar em consideração o tal viés "didático" do disco, ao apresentar grandes canções do rock internacional aos fãs da banda brasiliense.
Para os detratores do cantor ou da banda , o problema é justamente o jeito "Dinho" de cantar essas joias da música mundial. Para esses, algumas faixas de Black Heart seriam suficientes para condenar o vocalista ao fogo inextinguível do inferno caso de "Nothing Compares 2 U", "Time Is Running Out" (Muse) e "Being Boring" (Pet Shop Boys). Em resumo: se você gosta do Capital, vai se divertir com o álbum. Se não, passe longe!
GG
Dinho Ouro Preto é um curitibano atípico: falante, sorridente, bem-humorado... "pra cima", enfim. De uma alegria e animação tão efusivas, que ele virou até personagem de stand-up comedy Marcelo Adnet que o diga, com sua impagável imitação do hiperativo cantor do Capital Inicial. Mas ele acaba de lançar um álbum solo com 12 canções sentimentais, pungentes até. Mais: compostas por mestres da melancolia, como Morrissey (The Smiths), Ian Curtis (Joy Division) e Robert Smith (The Cure), entre outros. Assim é Black Heart, lançado este mês pela Sony Music (leia opinião no quadro ao lado).
VÍDEO: Confira a versão de Dinho para "Nothing Compares 2 you", sucesso na voz de Sinead O´Connor:
"Por quê?", perguntarão os admiradores da personalidade eufórica de Dinho no Capital Inicial. "POR QUÊ?", lamentarão os fãs das bandas e artistas "homenageados", como Patti Smith, Nick Cave, Leonard Cohen, Pet Shop Boys, Raconteurs, Eddie Vedder e Muse, além dos já citados.
Por telefone, Dinho explicou que o projeto nasceu de um desejo de se expressar de uma maneira totalmente diferente do que ele costuma fazer no Capital Inicial, mas sem precisar sair da banda atitude que ele mesmo tomou entre 1993 e 1998, quando lançou dois discos solo que quase ninguém ouviu, Vertigo (1994) e Dinho Ouro Preto (1995).
"Trabalhar em grupo invariavelmente envolve algum tipo de renúncia", observa. "Você tem de chegar a um acordo com os seus companheiros, e com frequência se vê dando um passo atrás, em nome do consenso. Por isso, chega um dia em que você fica com vontade de brincar de pequeno imperador: fazer as coisas exatamente do jeito que você quer, sem consultar ou dar satisfações a ninguém."
Portanto, para conciliar os dois desejos o de bancar o "Napoleão" e o de continuar cantando no Capital Inicial , Dinho tomou alguns cuidados: "Para deixar claro que não seria uma ruptura, mas, que ao mesmo tempo, fosse bem diferente do Capital, eu enfatizei três aspectos: 1) eu não seria o compositor de nenhuma música do disco; 2) ele seria cantado em inglês; 3) ele seria menos nervoso, com menos guitarras do que o que a gente faz no Capital."
Estabelecidas as diretrizes, o próximo passo seria a escolha do repertório: "Quando a gravadora me perguntou o que eu gostaria de gravar, eu fui falando de supetão: Cure, Smiths, Nick Cave... mas me dei conta de que todos eles eram artistas dos anos 80, o que deixaria o disco datado. Então, eu passei a distribuir as faixas por décadas: dos anos 60 eu escolhi Suspicious Minds, gravada pelo Elvis; dos anos 70 a Patti Smith; dos anos 2000 o Raconteurs e o Muse... e aí fui quebrar a cabeça atrás de alguém dos anos 90, e optei pelo Eddie Vedder, cantando Hard Sun".
Desafio
Dinho diz ter consciência de que poderia estar mexendo num vespeiro: "Sei que muita gente acha que algumas dessas canções nunca deveriam ser regravadas por ninguém, muito menos por mim (risos)! Mas isso não deixa de ter um caráter desafiador", provoca.
O cantor também destaca o caráter "didático" do álbum: "O disco deve interessar aos fãs do Capital. Uma grande parte deles talvez não conheça esses artistas, e, ao ouvir o disco, vão procurá-los, buscar conhecer as gravações originais". Na outra ponta, estão os fãs radicais de quem gravou as canções: "Provavelmente, um fã roxo do White Stripes, do Muse ou dos Smiths não goste das minhas versões. Sempre vão ter os xiitas, mas a maior parte deles são pessoas com muito pouco senso de humor".
Lupaluna
Para o bem ou para o mal conforme o seu grau de simpatia ou aversão por Dinho Ouro Preto , a fecundação de Black Heart aconteceu em Curitiba. Mais precisamente, na madrugada do dia 15 de maio do ano passado, no BioParque, na terceira edição do Lupaluna: "O Marcelo D2 tocou depois da gente [Capital] naquela noite, e eu fiquei assistindo ao show da lateral do palco... e eu chapei com a banda dele! Depois do show, eu fui falar com eles, e foi ali que eu conheci o Mauro [Berman, baixista] e o Lourenço [Monteiro, baterista], que tocaram comigo no disco. Eu disse para a gravadora: eu quero a banda do D2!, e felizmente deu certo".
Black Heart - Dinho Ouro PretoSony Music. R$ 24,90. Pop-rock.
Confira a versão de Dinho para "Nothing Compares 2 you", sucesso na voz de Sinead O´Connor: