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São Paulo (AE) – Está chegando às lojas No Direction Home (Sony/BMG), CD com 26 gravações de Bob Dylan jamais lançadas em disco antes. Trata-se da trilha sonora do documentário homônimo de Martin Scorsese. Odisco, com 28 canções (duas delas já lançadas anteriormente), o álbum abre com When I Got Troubles, registrada por Ric Kangas, um colega de colegial do artista em 1959 e tida como a primeira canção que Dylan gravou em toda sua carreira. O cantor ainda vivia em Minnesota, de onde se foi em 1961 para tentar a conquista da cidade grande, Nova Iorque.

O disco vem com um livrinho de 58 páginas no encarte com fotos inéditas do cantor, além de preciosas informações técnicas sobre gravações e circunstâncias. O documentário de Martin Scorsese foi ao ar na TV, nos Estados Unidos, nos dias 26 e 27 de setembro, pela PBS. Vai sair também em DVD, em breve.

Dylan é um artista incomum, um ícone cultural, um poeta que ajudou a escrever a história de sua época em versos, mas é também um performer iluminado. Essa última faceta, ele aprendeu da maneira mais heróica possível, cantando em buracos mal-iluminados por meros trocados ou pelo almoço, como contou em sua biografia.

A relevância artística de Dylan começa a aparecer na terceira música do álbum, This Land Is Your Land, composição de seu maior mestre, o artista folk Woody Guthrie. A gravação, ao vivo no Carnegie Chapter Hall, em 1961, foi feita logo após a chegada de Dylan em Nova York, onde começou sua arrancada para se tornar o porta-voz de uma geração.

Logo em seguida, a direção artística colocou a faixa Song to Woody, para mostrar o trabalho que o discípulo fez em cima do legado do mestre, a transfiguração do folk rural em urbano.

Passado o impacto do material arqueológico mesozóico, começam a surgir as maravilhas do disco 1. O bluegrass Sally Gal (adaptada de Sally Don´t You Grieve, de Woody Guthrie), da fase Freewhelin´ Bob de Dylan, instrumental, só uma gaitinha grunge ciceroneada por violão, é deliciosa. Furiosa atualidade tem a balada Don´t Think Twice, It´s All Right, extraída de uma demo do cantor.

Muitas das faixas são takes alternativos de suas canções clássicas, ao lado de algumas versões ao vivo surpreendentes, como Chimes of Freedom e When The Ship Comes In. Ardida versão de Blowin´ in the Wind, ao vivo, é um dos destaques, além de uma versão de Mr. Tambourine Man (em 1964, com participação Ramblin´ Jack Elliott, da banda de Woody Guthrie).

No meio de tudo, sua dicção anasalada, meio caipira, apresentando as faixas. Essa se chama Masters of War, anuncia o bardo, aplaudido entusiasticamente no Town Hall, em 1963. O disco 2 vem com a enxurrada eletrificada do astro. Começa com a versão crua e nua de Maggie´s Farm, que ele apresentou no famoso Newport Folk Festival, em 1965, sob certa hostilidade. Dylan deixava o bonde acústico e pegava o trem elétrico, e os puristas não gostaram muito da inversão. Quase tudo nesse disco é sobra de estúdio. Ele fecha o disco com Like a Rolling Stone, versão gravada em Manchester, em 1966.

O escritor e produtor Andrew Loog Oldham, que foi manager dos Stones entre 1963 e 1967, escreveu sobre a contribuição desses ícones. Segundo ele, Elvis nos deu o movimento. Os Beatles pegaram na nossa mão e nos deram algo que era nosso, algo pelo qual lutar a favor. Os Rolling Stones nos empurraram para as ruas e nos deram algo por que lutar contra. E Dylan? "Ele nos deu a graça, as palavras e o significado, iluminando nossa cegueira, dilatando nossas pupilas com uma luz áspera e um outro jeito de olhar o universo".

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