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Harry Callahan acredita em fazer justiça com as próprias mãos | Divulgação
Harry Callahan acredita em fazer justiça com as próprias mãos| Foto: Divulgação

Nenhum personagem marcou tanto a carreira do ator Clint Eastwood quanto Harry Callahan, que apareceu pela primeira vez no filme Perseguidor Implacável, de Don Siegel, que inaugurou, em 1971, a série Dirty Harry, hoje mítica por bons e maus motivos.

Nesse primeiro episódio, Callahan é um tira "vingador" que ultrapassa os limites da lei, fazendo justiça com as próprias mãos. O objetivo do personagem é exterminar o "lixo humano" de São Francisco, cidade californiana onde Eastwood nasceu.

O roteiro de Perseguidor Implacável tem como ponto de partida um caso espinhoso: um assassino em série sequestra uma garota de 14 anos. Caso o prefeito da cidade não lhe pague um resgate de US$ 100 mil, o serial killer promete matá-la. Em uma das cenas mais emblemáticas do filme, Callahan não mede esforços para conseguir salvar a adolescente. Tortura o criminoso, pisando várias vezes em um ferimento feito à bala, para que ele revele onde é o cativeiro a refém.

Por atos como esse, Callahan, ou simplesmente "Dirty Harry", foi visto como um bárbaro reacionário, um justiceiro sem limites, por parte significativa da crítica e por setores mais liberais da sociedade norte-americana. Não à toa: sempre de posse de uma Smith & Wesson Model 29 .44 Magnum, que segundo o personagem "é boa para atravessar com balas vidros de carros em fuga", o personagem é um anti-herói comparável ao capitão Nascimento do brasileiro Tropa de Elite. Moralmente questionável, eticamente falho, sem dúvida. Mas nem por isso deixou de ganhar dimensão mítica.

A popularidade do personagem foi tão grande e duradoura que rendeu quatro sequências: Magnum 44 (1973), Sem Medo da Morte (1976), Impacto Fulminante (1983), Um Agente na Corda Bamba (1984) e Dirty Harry na Lista Negra (1988).

Em Impacto Fulminante , o personagem diz pela primeira vez a frase Go ahead, make my day ("Vá em frente, faça o meu dia", algo como se quisesse dizer "me dê motivos para matá-lo e me faça feliz"), que se tornaria uma espécie de bordão de Harry Callahan.

Quando foi lançado, em 2008, Gran Torino, mais recente – e talvez último – trabalho de Eastwood diante das câmeras, foram inevitáveis as comparações entre Dirty Harry e o protagonista, Walt Kowalski, um veterano da guerra da Coreia que, ao presenciar a violência da qual seus vizinhos imigrantes estão sendo vítimas, deverá entrar em ação e resolver, à sua maneira, o conflito. Sua raiva é agravada quando a mesma gangue rouba seu carro de estimação, Gran Torino 1972.

Em um primeiro momento, o filme sugere que, assim como Dirty Harry, Kowalski é um justiceiro implacável pouco inclinado a esperar pela ação da Justiça e disposto a usar de violência para a resolução de conflitos. À medida que o enredo avança, entetanto, percebe-se que o personagem aos poucos se dá conta das limitações éticas desse método, até se oferecer em sacrifício, tornando-se ele mesmo vítima da violência que acredita ser a solução. Talvez essa tenha sido a despedida simbólica e redentora do ator Clint Eastwood. (PC)

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