Você vai ficar revoltado(a) depois de assistir ao documentário O Assassinato de Jean Charles, coprodução do Discovery Channel com a brasileira Mixer, que o canal exibe hoje, a partir das 21 horas. Para quem não lembra, Jean Charles de Menezes é o migrante brasileiro assassinado pela polícia britânica no metrô de Londres, na manhã do dia 22 de julho de 2005, depois de ter sido confundido com o terrorista etíope Hussein Osman.
A revolta brota à medida que a produção reproduz, passo a passo, a inacreditável sucessão de erros que levaram à morte do brasileiro. E transborda quando o filme nos lembra de que, cinco anos depois do crime, os principais responsáveis não só não tiveram qualquer punição, como foram promovidos. Sem falar na apatia do Itamaraty diante da execução sumária de um cidadão brasileiro pela polícia londrina.
Com base nos depoimentos da mãe de Jean Charles, Maria Otoni de Menezes, e das duas primas que dividiam o apartamento com ele em Londres, Vivian Figueiredo e Patricia Armani; nas declarações dos advogados de defesa da família, de especialistas em contraterrorismo, jornalistas que acompanharam o caso e ex-oficiais da polícia britânica, o documentário primeiro contextualiza a história: a histeria dominava Londres em julho de 2005, após duas ações terroristas a primeira, no dia 7, matara 50 pessoas; duas semanas depois, um novo ataque só não acabou em tragédia porque os explosivos falharam. O que ajuda a explicar a pressão enfrentada pelos homens da lei na capital britânica mas de forma alguma os exime da responsabilidade.
Em seguida, o filme mostra em detalhes a trapalhada monstruosa e trágica da New Scotland Yard, a badalada polícia inglesa, na ocasião. Começando pelo policial que deixou de gravar o suspeito (Jean Charles) na saída do prédio, porque tinha deixado seu posto para "urinar numa garrafa"; passando pelo atraso da equipe armada, que deveria interceptá-lo com antecedência; pela hesitação da sala de controle, que poderia ter detido Jean Charles antes que ele chegasse à estação do metrô em que foi atacado; pela abordagem agressiva e precipitada dos policiais armados no local; e culminando com a patética tentativa da Scotland Yard de jogar a culpa na vítima.
Depois de cinco anos, a família de Jean Charles recebeu uma indenização calculada em R$ 286 mil; Ian Blair, o comissário de polícia que havia pedido demissão depois que a verdade veio à tona, foi nomeado para a Câmara dos Lordes uma das mais altas honrarias do governo britânico; Cressida Dick, a oficial que comandou a operação, até hoje ocupa um dos cargos mais altos da Scotland Yard.
"Este ainda é um assunto atravessado. O que aconteceu foi esclarecido, os responsáveis foram apontados, mas não punidos. Jean Charles caminhou para a morte. Até levar os tiros no metrô, ele não desconfiou de nada", diz Carla Ponte, supervisora de produção da Discovery Networks no Brasil, acreditando que o caso afetou também a sociedade britânica: "Eles nunca tinham passado por isso e constataram que seu sistema é falho: qualquer cidadão poderia estar na mira erradamente".
Nessas horas a gente se dá conta de que incompetência e impunidade não são "privilégios" do Brasil...
Serviço:
O Assassinato de Jean Charles. Discovery Channel. Hoje, às 21 horas.
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