Romance
F
Antônio Xerxenesky. Rocco, 240 págs., R$ 27,50.
Um resumo apressado de F pode descrever um thriller de suspense: garota se infiltra na equipe de uma produção cinematográfica com objetivo de assassinar o diretor em ação, o cultuado Orson Welles. Não está errado, mas incompleto. O terceiro romance de Antônio Xerxenesky é muito mais do que a empolgante saga de uma matadora de aluguel.
Em seu livro recém-lançado, o escritor gaúcho radicado em São Paulo conta a história de Ana, uma carioca que, ainda na adolescência, descobre ter um talento incomum com armas. Ela logo passa a explorar esse dom, como uma arte a ser aprimorada. Ana que ser a assassina perfeita.
A jovem, então, é contratada para dar fim em Orson Welles (1915-1985), diretor de clássicos como Cidadão Kane e Verdades e Mentiras o título do livro remete a este último filme, chamado originalmente de F for Fake. Mas Ana já não consegue agir com a frieza costumeira, e o romance se mostra algo mais do que rápido entretenimento, questionando a função das artes e a possibilidade de viver sem vínculos mais estreitos, como tenta a protagonista. Talvez a mudança de rumo gere desconforto ao leitor, mas Xerxenesky afirma que o risco vale a pena:
"F começa parecendo um livro supercomercial, mas vai acumulando uma série de frustrações de expectativas ao longo da leitura. Às vezes, é preciso dizer dane-se e não fazer só o que o leitor espera."
80s
Ainda que a trama gire em torno de Welles, figura atuante desde os anos 1930, a trama se passa na década de 1980. De filmes como De Volta para o Futuro, às bandas Joy Division e New Order, as referências permeiam a narrativa: se algumas parecem mais sinalizar o assumido entusiasmo de Xerxenesky pela cultura oitentista, outras iluminam os conflitos de Ana.
F expõe a inventividade que faz de Xerxenesky um escritor em carreira ascendente aos 29 anos, ele terá seu romance Areia nos Dentes (2008) lançado em francês e espanhol ainda em 2014. Ao casar reflexões sobre o papel da arte na vida das pessoas e sobre as interações que reiteram nossa própria humanidade com uma prosa envolvente, que conduz o leitor sempre ao capítulo seguinte, F é mais um candidato a chamar atenção dentro e fora do país.
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