Distante da unanimidade
O fato de José Saramago ter sido o único escritor de língua portuguesa a vencer o Prêmio Nobel, em 1998, não fez dele uma unanimidade entre leitores e crítica, principalmente em sua terra natal, Portugal. Um de seus desafetos, o escritor conterrâneo Antonio Lobo Antunes dizia que o valor da obra dele só era reconhecido no Brasil, onde Saramago de fato teve os maiores índices de popularidade.
Autor foi chamado de anacrônico e pós-moderno
Em 1980, José Saramago, então com 58 anos, publicou um pequeno livro, um drama, na verdade, chamado Que Farei Eu Com Este Livro? Era o 13.º livro do autor que já se fazia conhecido à época, mas ainda não tinha escrito alguns dos que seriam considerados seus grandes títulos: Memorial do Convento, Jangada de Pedra; Ensaio sobre a Cegueira. Bom, há vários "grandes títulos", esses são alguns, escolha os seus.
O fato de José Saramago ter sido o único escritor de língua portuguesa a vencer o Prêmio Nobel, em 1998, não fez dele uma unanimidade entre leitores e crítica, principalmente em sua terra natal, Portugal. Um de seus desafetos, o escritor conterrâneo Antonio Lobo Antunes dizia que o valor da obra dele só era reconhecido no Brasil, onde Saramago de fato teve os maiores índices de popularidade.
A crítica lusófona sempre teve opiniões divididas sobre o escritor de 87 anos, que esteve em Curitiba em 2000 para lançar o livro A Caverna. "Achavam ele medíocre ou genial. Considero-o polêmico pela irregularidade qualitativa de sua obra", diz Marta Morais, professora do Curso de Letras da Pontifícia Universidade Católica do Paraná. Ela considera apressados textos recentes como os publicados no livro O Caderno, no ano passado.
Para quem deseja iniciar a leitura das obras do autor, a professora sugere Memorial do Convento, primeiro livro de Saramago publicado no Brasil. "Foi uma surpresa a maneira como ele escrevia, sem pontuação, com uma língua portuguesa renovada. Além disso, o livro, um romance histórico, relaciona a história de uma época com questões da atualidade, políticas, humanas e de criação", diz.
O livro também é recomendado como iniciação pelo escritor gaúcho Moacir Scliar, cuja admiração por Saramago transformou-se em amizade. O autor, cuja preferência é Jangada de Pedra, diz que sempre admirou o caráter de grande narrador de Saramago, "no estilo de Jorge Amado e Erico Verissimo". "Ele sabia contar uma história usando humor, ironia, fantasia. Era representante do realismo mágico latino-americano na literatura europeia", diz.
Ele contesta as críticas negativas feitas ao Nobel português. "Como escritor de grande público, ele tem admiradores e críticos, é inevitável, mas acho que não há dúvida de que tem um domínio da palavra até surpreendente para uma pessoa de origem humilde, que foi operário", diz. E se lembra com carinho do homem gentil e afetuoso que conheceu, "apesar de na aparência parecer de trato difícil".
Fora da intimidade, Saramago costumava ser um tanto rabugento com público e jornalistas. O professor de Letras da Universidade Federal do Paraná, Caetano Galindo, relembra a saia-justa que vivenciou em uma palestra no Museu de Arte de São Paulo MASP, em 1996. "Fã descabelado, descambei até lá e na sessão de perguntas, sapequei: O senhor concorda com a ideia de que a função da literatura é degradar a humanidade? E ele: Que lhe faça bom proveito. Hoje rio", conta.
Na época, Galindo estava injuriado com os pronunciamentos de Saramago, que lhe pareciam ingênuos. "Mas ele era um escritor que queria mudar o mundo, ingênua ou equivocadamente, talvez, mas queria. E isso há de ficar", diz.
Ele recomenda, dentre as obras de Saramago, "quase tudo entre 1980 e 1997", com destaque para o grande O Evangelho Segundo Jesus Cristo. "É o livro em que ele estava mais em forma narrativamente e sem certos pesos lírico-mágicos que hoje eu acho que azedam um pouco o Memorial do Convento, por exemplo".
Polêmica
Saramago foi um intelectual atuante, comunista conhecido e ateu, motivos suficientes para suscitar polêmica entre seus leitores (leia frases abaixo). "Suas obras, que são políticas, sempre evocavam a história de Portugal e continham um dose de anticlericalismo", diz Scliar, citando seu último livro, Caim, como o mais crítico neste sentido.
O escritor Miguel Sanches Neto lembra que Saramago conseguiu produzir uma escrita que era, ao mesmo tempo, tradicional e moderna. "Ele soube transitar entre estilos, épocas, países. Sua obra tem muita vinculação com o Brasil e circulava à parte de um grupo de escritores eurocêntricos", diz, indicando O Ano da Morte de Ricardo Reis, Ensaio sobre a Cegueira e A História do Cerco de Lisboa.
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