Abel foi o escolhido por Deus. Ao aceitar a oferenda dele e rejeitar a de Caim, Deus fez sua opção por um dos dois irmãos. Como resultado dessa escolha, deu-se o primeiro fratricídio da humanidade. O mito bíblico é relembrado por Cleide Piasecki, atriz, diretora e autora da peça A Feia, que estréia amanhã no Teatro José Maria Santos.
"O mito de Caim serve para entender a origem do preconceito. Existe a justificativa de que Abel, ao contrário de Caim, ofereceu tudo o que tinha, por isso Deus aceitou a oferenda. Mas, na Bíblia, não diz nada disso", conta Piasecki, que a partir desse mito e do questionamento da importância da imagem na sociedade contemporânea começou a elaborar o texto da peça.
A Feia estreou nos palcos curitibanos no Festival de Teatro de 1994 e se manteve em cartaz no Teatro Novelas Curitibanas até 1995. Venceu as sete categorias do Troféu Gralha Azul para as quais foi indicado, incluindo melhor espetáculo, texto e direção (Cleide Piasecki), ator (Laerte Ortega) e atriz (Regina Bastos).
A história acompanha o julgamento de um casal que é acusado de matar a filha de 14 anos que nasceu com deficiências físicas, algo inaceitável para o casal. No palco, o Pai, a Mãe, a Feia e um mediador reconstituem a trajetória da jovem assassinada desde seu nascimento até a morte. "Existe um questionamento da importância da imagem, a origem do preconceito, intolerância e religião", explica a autora que, na remontagem, reforçou a importância dos mitos que permeiam o espetáculo, como Caim, a tentação da serpente e o "Livro de Jó". "A montagem atual procura não julgar os personagens, não existe o humor negro. Trabalhamos para deixar os personagens mais humanos", compara a autora.
Grande parte do elenco participou das primeiras montagens. Piasecki, que nos anos 90 não participou do elenco, interpreta o mediador; Fernando Bachstein vive novamente a Feia; Gô Küster é o Pai; e Raquel Rizzo, antiga mediadora, interpreta a Mãe.
A Feia foi a primeira peça escrita e dirigida por Piasecki, por isso, a autora sentiu a necessidade de retomar o texto, mais de 10 anos depois. A peça representa também uma nova fase para a companhia, que estréia sob o nome de Benandantes Cia. de Arte, antiga Carmin Cia. de Artes, fundada em 1994.
"O questionamento sobre a importância da imagem se tornou ainda mais forte atualmente. O culto à beleza, que ganhava força no final dos anos 80, com a proliferação das academias de ginástica se sofisticou, e agora temos cirurgias plásticas, silicone, lipoaspiração e transtornos alimentares", relata Piasecki.
Serviço: A Feia. Teatro José Maria Santos (R. 13 de Maio, 655), (41) 3322-7150. Com Cleide Piasecki, Fernando Bachstein, Gô Küster e Raquel Rizzo. Direção de Cleide Piasecki. De 7 de junho a 1.º de julho de 2007. Quarta a sábado, às 21 horas; domingo, às 19 horas. Quarta e domingo, espetáculos legendados. Ingressos a R$ 16 (inteira) e R$ 8 (meia-entrada). Descontos para o Clube do Assinante.
Boicote do agro ameaça abastecimento do Carrefour; bares e restaurantes aderem ao protesto
Cidade dos ricos visitada por Elon Musk no Brasil aposta em locações residenciais
Doações dos EUA para o Fundo Amazônia frustram expectativas e afetam política ambiental de Lula
Painéis solares no telhado: distribuidoras recusam conexão de 25% dos novos sistemas
Deixe sua opinião