Filmes em DVD
Uma Certa Lucrécia (1957)
Cala a Boca Etelvina (1959)
Minervina Vem Aí (1959)
A Viúva Valentina (1960)
Dona Violante Miranda(1960)
Se Meu Dólar Falasse (1970)
Sonhando com Milhões (1963)
Entrei de Gaiato (1960)
Para muitos brasileiros, Dercy Gonçalves é hoje quase uma caricatura de si mesma. A única imagem da atriz e comediante que têm na cabeça é a de uma anciã irreverente, desbocada e dada tanto a tiradas desconcertantes, povoadas por saraivadas de palavrões, quanto a atitudes inesperadas e escandalosas, como mostrar os seios na Marquês de Sapucaí em um desfile das escolas de samba do Grupo Especial no Rio de Janeiro. Dercy, acreditem, é mais do que isso.
No próximo sábado, Dolores Gonçalves Costa, nome de batismo da atriz, natural do município fluminense de Santa Maria Madalena, completa 100 anos. Uma data pertinente para que o Brasil, cuja memória é curta quando o assunto é história cultural, descubra a importância do seu legado, que vai além de sua imagem de irreverência e provocação.
O crítico teatral Sábato Magaldi, um dos grandes pensadores do teatro no país, tem uma visão bastante interessante da relevância de Dercy dentro do panorama das artes cênicas nacionais. Ele defende a tese de que a enorme empatia que o público brasileiro sempre sentiu pela comediante está relacionada, sobretudo, a sua marginalidade dentro de um meio por muitos considerado elitizado, afetado. A verdade é que, ao não ser levada a sério, ela foi abraçada pelo povo, como parte dele.
Magaldi, em artigo publicado pelo Jornal da Tarde (de São Paulo), em 1983, escreveu: "Imperceptivelmente, começa-se a sentir por que Dercy sintoniza tanto com o público. Ela assume a própria marginalidade, erigindo-a como um troféu. O povo brasileiro também, por circunstâncias históricas, políticas e econômicas, acabou sendo marginalizado, ainda que ostente o emblema da completa soberania. Dercy perseguida, incompreendida, marginalizada, mas dando a volta por cima, no deboche e no sarcasmo, confunde-se com a efígie não expressa que parcela ponderável da população tem a seu próprio respeito. O riso provoca a catarse. (...) rindo, se aprende com ela uma profunda lição de brasilidade".
Improviso
A trajetória de vida de Dolores confirma o ponto de vista de Magaldi. Filha de Margarida, lavadeira, e de seu Manoel, alfaiate, a menina fugiu de casa aos 17 anos para se transformar em Dercy Gonçalves, um dos ícones mais perenes da comédia brasileira. Para isso, comeu o pão que o diabo amassou. Não era bonita ou vistosa o suficiente para ser vedete de teatro de revista, tampouco podia contar com talentos dramáticos que pudessem lhe garantir um lugar no elenco de um espetáculo sério. A saída que lhe restou acabou sendo o humor e, sobretudo, a intuição.
Popular no mais puro sentido da expressão, Dercy Gonçalves pertence a uma categoria especial de ator, dos grandes comediantes populares puramente intuitivos. Foi o maior expoente do teatro de improviso no Brasil. Uma espécie de precursora tupiniquim da stand-up comedy, ao optar pelos espetáculos-solo, a partir da década de 60.
Quando, nos anos 50, fez a transição das revistas musicais para o teatro de comédia, Dercy começou a consolidar sua marca registrada. Nas montagens em que atuava, se sobrepunha ao texto (por vezes, um mero detalhe), nunca representando a personagem, mas fazendo com que esta se amoldasse a ela. O restante do elenco se transformava em apoio aos improvisos da diva popular, reduzindo-se ao papel de coro. Esse procedimento, na época, tornou-se alvo de críticas, que, no entanto, não chegaram a abalar o direcionamento da atriz.
De uma certa forma, o mesmo pode ser dito de sua forma de atuar no cinema, iniciada em 1943, com Samba em Berlim, direção de Luís de Barros. Embora não pudesse ser tão, digamos, espontânea, ainda assim Dercy conseguia emprestar seu tom de improviso aos personagens, variações em torno de sua persona tresloucada e sempre disposta a um barraco físico e verbal.
Entre os filmes mais importantes e populares da atriz estão Caídos do Céu (1946), no qual vive (pasmem!) uma extraterrestre, ao lado de Walter D´Ávila, Uma Certa Lucrécia (1957), A Baronesa Transviada (1957) e Cala Boca Etelvina (1959).
Na televisão, só iria estrear com mais de 70 anos, em 1980, na novela Cavalo Amarelo, que lhe deu o Troféu Imprensa (do Programa Sílvio Santos) de melhor atriz, empatada com Dina Sfat. Em sua carreira na telinha, teria ainda duas atuações sempre lembradas, como a baronesa Eknésia em Que Rei Sou Eu (1989) e no papel da anja Celestina de Deus Nos Acuda (1992).
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