Noel Rosa e Vadico ensinaram no século passado que o samba não vinha do morro nem da cidade e sim do coração. Neste século 21, é DJ Marlboro que ensina que o funk também não vem do morro nem da cidade. A julgar pelo seu novo CD, a coletânea "Funk Brasil - Bem funk" (Som Livre), um panorama atual do gênero, o funk vem do coração, sim, mas também da praia, do salão de beleza, da música sertaneja, do baião, do axé, do próprio samba e até da novela. Em 25 músicas, o disco mostra que o gênero se renova exatamente buscando inspiração na vida real, esteja ela onde estiver. (Clique e conheça todas as faixas)
- O funk canta o dia-a-dia. Pode ser o que o cara viu na rua, no jornal ou na novela - explica o DJ. - E musicalmente, o funk também abraça tudo. O "Rap da felicidade" ("Eu só quero é ser feliz") tinha vocal de samba-enredo, o "Rap do Silva" era um forró, assim como a "Melô do bebâdo". O "Rap do Salgueiro" tem macumba, tem folia de Reis...
"Bem funk" é o sétimo disco da carreira de Marlboro e já sai da fábrica com 80 mil cópias vendidas. O CD traça um painel do gênero, unindo sucessos (os mais antigos de 2001, como "Som de preto") e apostas. Exatamente como todos os outros da série "Funk Brasil", iniciada em 1989. Ou melhor, o primeiro era diferente, como ressalta o próprio Marlboro.
- Naquela época não existia funk cantado em português. Nós estávamos criando o gênero naquele momento - diz, lembrando o disco que reunia futuros sucessos como "Feira de Acari", "Melô do bêbado" e "Rap das aranhas".
Agora é diferente. Muitas das músicas do disco já são sucessos, apesar de, em sua maioria, serem inéditas em disco. Como? As músicas são gravadas sozinhas, lançadas nos bailes e nas rádios. É a cultura do single, que desde os tempos do compacto não é bem aceita no mercado brasileiro, agora funcionando a todo vapor no mundo funk.
Esta safra que Marlboro reúne na nova coletânea está de certa forma relacionada com o melhor momento de sua carreira. Nos últimos anos, ele fez shows em Nova York, se apresentou no conceituado Tim Festival e viu o funk ganhar mais visibilidade para um público que antes só via o gênero nas páginas policiais.
- A novela "América" mostrou um outro olhar sobre o funk - lembra. - Teve a M.I.A. (atração do último Tim Festival que tem o funk como referência) e a ida de muitos artistas para a Europa e os Estados Unidos. Com tudo isso passamos a ter mais respeito, mas o preconceito continua. Mas o samba também passou "perrengue", é normal. É a velha discriminação contra o pobre, disfarçada com outra cara. É um absurdo haver uma lei proibindo os bailes funk, por exemplo.
Mas há recompensas, como Marlboro gosta de destacar. De uma de suas viagens à Europa, ele lembra um diálogo com um DJ alemão que ilustra bem o que o funk alcançou.
- Ele disse que quando eles conheceram a bossa nova e a tropicália e viram a capacidade do Brasil de reprocessar as informações que estavam rolando e devolver com uma cara nova. Por isso, ele ficou na maior expectativa quando veio a febre eletrônica. "O que será que vem do Brasil?". Quando ouviu o funk, ele pensou: "Era exatamente isso que a gente esperava". O funk é a verdadeira música eletrônica do Brasil, com características próprias.
Coerente com os antepassados da bossa nova e da tropicália, o DJ completa:
- Se o futuro, como dizem, é a mestiçagem, o Brasil vive o futuro.
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