Do baú do Rock in Rio

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A história do Rock in Rio frequentemente se confunde com a história do rock nacional – o rock que se tornou mainstream a partir da primeira edição do festival, em 1985. A dois meses de um novo evento da marca criada pelo empresário Roberto Medina, que ocorre entre 23 de setembro e 2 de outubro, registros de material bruto de edições anteriores do Rock in Rio vêm sendo lançados em CD e DVD: os shows de Barão Vermelho e Os Paralamas do Sucesso, em 1985, e os de Cássia Eller e Ira! junto com Ultraje a Rigor, em 2001.

Ambos os festivais foram televisionados ao vivo pela Rede Globo, o que facilitou o resgate do material em vídeo. O áudio, por sua vez, foi remasterizado e recuperado de gravações perdidas. Somado a isso, extras com entrevistas realizadas na época e posteriormente com os artistas e jornalistas complementam o material como documento histórico e ajudam a entender a magnitude do festival.

Os shows mais antigos valem como registro de uma época em que o pop rock nacional era conhecido do público, mas ainda não da mídia. Quando os Paralamas do Sucesso subiram ao palco principal do Rock in Rio 1, ainda era um trio em rápida ascensão, considerada a "zebra" do festival por tocar com nomes já consagrados da música nacional e internacional – como Barão Vermelho, Queen, AC/DC, e Pepeu Gomes – e destacar-se tanto quanto as outras.

Já o Barão Vermelho, que tinha Cazuza como frontman, fez um show inesquecível. Frejat, vestido de verde e amarelo, celebrava o fim da ditadura militar. "O momento político era importante. Jamais usaria uma roupa verde e amarela sem um bom motivo", diz. Lucinha Araújo, mãe do cantor, morto em 1990, também esteve no show, e diverte com seus comentários: "Eu via o Cazuza cantando ‘eu tô perdido sem pai nem mãe’ [da canção ‘Maior Abandonado’] e não entendia como um garoto tão bem criado como ele pudesse escrever aquelas coisas".

Na terceira edição do Rock in Rio, no mesmo dia em que se apresentaram bandas como Oasis, Guns n’ Roses e Papa Roach, as bandas paulistas Ira! e Ultraje a Rigor fizeram duas rápidas apresentações. "Ficamos um pouco decepcionados quando descobrimos que não teríamos uma hora inteira de show", conta o baterista do Ultraje, Flávio Suete. Com menos de 30 minutos para cada banda, o Ira! tocou seus clássicos, entre eles "Dias de Luta", "Flores em Você" e "Envelheço na Cidade", até que dividiu o palco com o Ultraje a Rigor e tocaram todos juntos "Should I Stay or Should I Go?", do grupo de punk inglês The Clash. A banda de Roger, por sua vez, resolveu usar uma técnica que já havia utilizado no Hollywood Rock, em 1988: acelerar o repertório normal, para caber a mesma quantidade de músicas em um tempo reduzido.

O show de Cássia Eller foi um dos que mais chamaram a atenção da mídia na época do Rock in Rio 3. Ela, que em dado momento mostrou os seios, estampou os principais jornais e revistas do país com esse ato de rebeldia e irreverência. "Ela fazia isso em quase todo show. Acho que a imprensa não conhecia muito a trajetória dela, caso contrário, não se espantaria", afirma um dos músicos da banda. A cantora, que viria a morrer no final daquele ano de 2001, se alternou entre as baladas "O Segundo Sol" e "Malandragem", ao rock mais pesado, como os covers "Corpo de Lama", de Chico Science, com a participação da Nação Zumbi; "Coroné Antônio Bento", com o guitarrista baiano Márcio Mello; "K@#ø%", do Korn; e o gran finale "Smells Like Teen Spirit", do Nirvana, que, segundo a história, teria conquistado as graças do guitarrista do Foo Fighters, Dave Grohl, ex-baterista da banda grunge, que também tocou naquela edição.

Falhas

O registro dos DVDs do Rock in Rio não deixam de fora os erros do evento, inerentes a qualquer grande festival. De falhas técnicas a equívocos na escalação – como o mú­­sico Eduardo Dusek e a banda Kid Abelha, apedrejados pelos metaleiros da primeira edição, ou Carlinhos Brown, que recebeu uma chuva de garrafinhas d’água do público que queria ver rock – os desacertos na Cidade do Rock também são parte dos shows. O tímido Herbert Vianna não começou o show sem antes passar um sermão nos agressores de Dusek: "Vem na hora que vai tocar o seu grupo, e, ao invés de vir aqui jogar pedra, fica em casa aprendendo a tocar guitarra, quem sabe na próxima você está aqui no palco". O baterista do Ira!, por sua vez, confessa nas entrevistas do material extra que a raiva voltada a Carlinhos Brown serviu para dar energia ao show da banda paulista: "Aquele público estava tão sedento por rock que tudo foi resolvido ao primeiro acorde do [guitarrista Edgar] Scandurra. Para nós, foi ótimo".

Serviço:

DVDs Rock in Rio Barão Vermelho 1985, Rock in Rio Os Paralamas do Sucesso Ao Vivo 1985, Rock in Rio Ira! e Ultraje a Rigor Ao Vivo, Rock in Rio Cássia Eller Ao vivo. Som Livre/EMI/MZA Music. Preço médio: R$ 19,99 (cada).