Uma mãe doente e desesperada. Um pai que partiu, mas continua onipresente. Um filho que teve a infância interrompida cedo demais por causa da guerra e uma filha, cuja infância já dura mais que deveria. Esses são alguns dos personagens da peça "Do Cão Fez-se o Dia", da Inominável Cia. de Teatro, baseada no estudo das obras do escritor português Valter Hugo Mãe.
O espetáculo navega por vários traumas da existência humana. O traço autobiográfico das personagens, criadas a partir do estudo conjunto feito pelos atores, é nítido. "A guerra da peça não é aquela do bombardeio entre países, mas a guerra menor, entre você com você mesmo", explica a diretora Lilyan de Souza. "Os traumas humanos são diluídos nessa grande guerra que é, na verdade, a enorme solidão de todo mundo", conta.
De fato, cada ator protagoniza uma guerra diferente. A irmã mais nova cultua um bonsai, que acredita conter a alma de sua gêmea natimorta. Ela anda em uma corda bamba, que representa a linha entre a sanidade e a loucura completa. Semelhante é a agonia da mãe, única figura adulta na história e que é a mais infantil, frágil e problemática das personagens. Vítima de um estupro coletivo, ela não faz ideia de quem seja o progenitor de sua menina - e por isso a rejeita. Ambas esperam eternamente pelo pai da família, que nunca voltará.
O filho mais velho, que acaba por assumir o papel de patriarca, luta o tempo todo para racionalizar as emoções, colocar cada pessoa em seu papel. Ele inventa histórias para desafogar o sofrimento da irmã, ao mesmo tempo em que confronta a mãe com a realidade. E, em meio à loucura, sonha com um futuro melhor, com um amor na França, com uma vida sem guerras.
E finalmente o pai, figura onipresente, é um bloco de gelo pendurado no canto do palco. Pingando durante toda a peça, ele não nos deixa esquecer de sua presença, quase como uma tortura. "O gelo inicialmente representava o amor. Mas percebemos que todos nós tínhamos questões com nossos pais, então resolvemos misturar as duas coisas: o pai congelado e a espera infinita, que também é a espera pelo amor."
O espetáculo, que lotou em seus dois dias no Festival (28 e 29 de março), volta em temporada nos meses de agosto e setembro.
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