A Maçã Envenenada: Michel Laub. Companhia das Letras, 120 págs., R$ 29,50. Romance| Foto:

A Maçã Envenenada, de Michel Laub, é o segundo livro de uma trilogia sobre como personagens lidam com a sobrevivência a uma tragédia pessoal que ecoa uma outra tragédia, histórica. O primeiro foi o elogiado Diário da Queda, que mostra o campo de extermínio Auschwitz como um eco a assombrar uma família de geração em geração. No novo romance, as relações entre o aspecto pessoal e o histórico são mais tênues. O protagonista relembra meses cruciais de sua vida, em 1993, ano da vinda de Kurt Cobain ao Brasil, e os relaciona com o suicídio do cantor, meses depois, e com a provação sofrida por Immaculée Ilibagiza, sobrevivente do genocídio de Ruanda. Dois fatos ocorridos com pessoas reais quase no mesmo dia de 1994.

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"Eu já vinha trabalhando em uma história que tinha quartel e Kurt Cobain no meio, mas só tomou forma depois que entrevistei Immaculée e percebi que ela começou a se esconder dos que queriam matá-la no dia seguinte, ou no mesmo dia, talvez, dependendo do fuso horário, em que Kurt Cobain se matou", diz Michel.

Em A Maçã Envenenada, o contraponto entre um ídolo pop que se matou no auge do sucesso e uma mulher que se salvou no meio de um dos mais brutais genocídios da história forma o eixo em volta do qual o narrador reconstrói sua vida entre 1993 e 1994. Forçado a trancar a faculdade de Direito para se matricular no CPOR, o protagonista deve decidir se foge do Exército, correndo o risco de deserção, para encontrar a namorada no show do Nirvana, ou se resolve, antes, uma situação que pode comprometê-lo. Embora Cobain e Immaculée sejam pretextos para as reflexões do narrador, a relação tumultuada do protagonista com a namorada instável e seu drama pessoal é que estão em primeiro plano.

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Embora ainda lide com uma estrutura tortuosa, bastante eficiente em esconder, até o limite, quais são os reais eventos que está narrando, A Maçã Envenenada tem uma prosa menos suntuosa que a de Diário da Queda. Na obra anterior, o próprio fato de o narrador ter de lidar com uma extensa bibliografia sobre o assassinato em massa de judeus encorpava a vertente "literária" da narrativa, com uma reflexão não apenas sobre o que foi Auschwitz, mas também sobre o que restará do episódio na memória do mundo dentro de alguns anos. A Maçã Envenenada não se aprofunda tanto, talvez porque fosse impossível mesmo, ao casar rock e genocídio.