Íntimo e sofisticado
O álbum homônimo de Olivia Byington explora, com delicadeza, toda a extensão vocal da cantora carioca. Os sambas se misturam aos estudos mais lentos e espontâneos, que valorizam as letras do poeta português Tiago Torres da Silva, parceiro em nove das 12 faixas do álbum. Para Olivia, o próprio processo de composição nasce a partir da letras e se intensifica na exploração da voz. "As melodias surgem a partir da minha voz, da vocalização, das idéias. Mas a base é a emoção", explica.
À carioquíssima bossa "Areias do Leblon", faixa que abre o disco, segue a poética e intimista "Guarda Minha Alma". As duas participações especiais do CD Seu Jorge, no samba "Na Ponta dos Pés"; e a voz luxuosa Bethânia em outro samba, "Mãe Quelé" são pontos altos no trabalho, o mais autoral da carreira de Olivia.
Destaque também para as ótimas "Por Dentro das Canções", repleta de referências à artistas brasileiros, e para "O Mar é Minha Hora", que prima pela sofisticação dos arranjos de Leandro Braga. GGGG
Olivia Byington escolheu seu próprio nome para dar título ao seu novo álbum, o mais autoral de sua carreira e aquele que "traz em si minhas verdades traduzidas em ritmos e melodias". Espontânea e bem-humorada, a cantora concedeu uma entrevista ao Caderno G, por telefone, para falar do seu novo trabalho e do show que o acompanha, "a segunda metade do disco", como ela define.
Depois de um jejum de 20 anos, a cantora voltou a compor a última canção escrita por ela havia sido "Clarão", feita em parceria com o letrista Cacaso e gravada em 1987. O resultado é um trabalho que desvenda, com elegância, o universo musical da carioca com um toque lusitano. Foi do encontro de Olivia com o poeta português Tiago Torres da Silva, que surgiram nove das 12 faixas do álbum.
"O Tiago tem uma familiaridade muito grande com o Brasil e estava passando seis meses por aqui para escrever um livro", conta Byington, que recebeu do poeta a letra de "Areias do Leblon", faixa que abre o álbum "Ao lê-la, já a escutava com música", afirma a compositora.
Unanimidade entre críticos desde o começo de sua carreira, com o hit "Lady Jane", e com uma sólida carreira internacional, Olivia arriscou passos mais altos com o novo disco. Antes do encontro com o poeta português, ela voltou a estudar violão para compor arranjos de músicas de Caetano Veloso. "Queria cantar o Caetano da minha maneira, fugindo da marca das deusas Gal, Bethânia, e do próprio Caetano, que é um grande intérprete", conta. As composições se sofisticaram e o amigo e poeta Geraldo Carneiro sugeriu que ela criasse um álbum próprio, autoral.
Além de Tiago Torres da Silva e de Carneiro, Olivia compôs com Marcelo Pires a romântica "Todo Par"; e regravou "Clarão" com duas quadras novas e um arranjo assinado por Pedro Jóia.
A sensibilidade das letras do poeta português, mas quase brasileiro nas letras, casam perfeitamente com a voz extensa de Olivia. Em um dos momentos mais inspirados do álbum, a cantora canta em dueto com Maria Bethânia a música "Mãe Quelé", uma homenagem à cantora Clementina de Jesus, adorada pela baiana. "Comadre dos ventos/ Madrinha dos bichos/Negra Bethânia/Com riso de Flor", canta Olivia, seguida pela voz potente da parceira.
Outra participação do álbum é Seu Jorge, no samba "Na Ponta dos Pés", em que o cantor surpreende com uma espécie de rap ao final. "Conheci Seu Jorge através dos portugueses", conta Olivia. "Aí, quando eu fiz esse samba, pensei nele imediatamente", continua.
Segunda metade do álbum, na opinião da cantora, a turnê Cada Um Cada Um, que acompanha o lançamento do disco procura fazer uma retomada dos mais de 30 anos da carreira de Olivia. Estão lá clássicos como "Lady Jane", "Mãe da Manhã" e "Fotografia e Modinha", que se misturam às canções novas, em um show enxuto e intimista.
"Quando eu pensei em fazer show da maneira tradicional, me deu um enjôo. Fazer projeto, ficar dois dias em cada lugar com a banda. Hoje em dia, querem saber do projeto, ninguém quer saber o que você criou. Pensei: por que não fazer um show sozinha, como se fosse um monólogo?", conta a cantora, que se apresenta sem banda, só com um computador e seu violão no palco, em um cenário de velas e objetos pessoais. Um delicioso convite à sua intimidade.
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