Do melodrama português ao Brasil profundo

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Depois de lotar o Guairinha na noite de anteontem, em sua sessão de abertura, na qual foi exibido o instigante filme-ensaio Mr. Sganzerla – Os Signos da Luz, de Joel Pizzini, o Olhar de Cinema – Festival Internacional de Curitiba chega hoje ao seu terceiro dia com boas opções em sua programação (confira quadro ao lado). Na mostra competitiva Janela Internacional, a maior aposta fica por conta de Sangue do Meu Sangue, de João Canijo.

Campeão de bilheteria em Portugal, o filme é uma espécie de releitura contemporânea de romances clássicos do realismo lusitano do século 19, sobretudo os de Camilo Castelo Branco (1826-1890), como Amor de Perdição e O Crime do Padre Amaro. Mas com forte ênfase no registro do melodrama de família, como sua trama anuncia.

Márcia (Rita Blanco, atriz com quem Canijo costuma trabalhar com frequência) é mãe solteira de dois filhos, Cláudia (Cleia Almeida) e Joca (Rafael Morais). Ela ganha a vida como cozinheira e divide a casa, em um bairro de classe média baixa, com a irmã, Ivete (Anabela Moreira), cabeleireira.

Os filhos, que, dentro da tradição do gênero melodramático, foram criados por Márcia com todo o sacrifício do mundo, são fontes de eterna preocupação e desgosto: Cláudia, estudante de enfermagem, trabalha como caixa em um supermercado e se apaixona por um homem mais velho e casado. Joca, por sua vez, sobrevive como traficante na região onde mora até decidir aplicar um golpe em seu chefe, o que termina por colocar sua vida em risco.

Vencedor do Grande Prêmio do Júri no Festival de Miami, Sangue do Meu Sangue, acaba de levar os Globos de Ouro, láurea máxima das artes, dos esportes e do entretenimento em Portugal, de melhor filme e atriz, para Rita Blanco.

Nacional

Outro ponto alto da programação de hoje é o longa-metragem mineiro Giramunho, de Clarissa Campolina e Helvécio Marins Jr., que ganhou o Prêmio Especial do Júri na última edição do Festival de Havana (Cuba) e a mesma láurea no Festival dos Três Continentes de Nantes (França) além do Prêmio do Público Jovem dessa mostra.

O enredo de Giramunho tem como personagem central dona Bastu (Maria Sebastiana Martins Álvaro), uma mulher do Brasil profundo, mais precisamente da localidade de São Romão (MG). Depois de perder seu marido, o ferreiro Feliciano, ela vai encontrar alento em singelos sinais do seu cotidiano aparentemente imóvel e em suas muitas recordações, que a ajudarão a enfrentar as consequências dessa triste perda. O longa participa da mostra Olhares Brasil.