Num momento em que o cinema e o teatro se mobilizam em campanhas contra o aumento no número de carteiras de estudante usadas para a aquisição de meia-entrada, vem mais uma meia por aí. O deputado estadual Roberto Dinamite (PMDB-RJ) acaba de criar um projeto de lei que dá meia-entrada para doadores regulares de sangue em cinemas, teatros, casas de show, circos, museus e estádios esportivos. O projeto, de número 302/2007, deu entrada na Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro no último dia 4 e foi publicado no Diário Oficial do Legislativo dia 9, tendo sido encaminhado para as comissões de Constituição e Justiça, Cultura, Esporte e Lazer, Saúde e Orçamento. Após passar por elas, vai a votação na Alerj.

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Segundo Roberto Dinamite, o objetivo do projeto de lei é estimular a doação de sangue contínua, já que a meia seria dada apenas para doadores regulares. Em 2004, o deputado Gilberto Palmares já havia dado entrada em projeto semelhante (1213/2004), que recebeu pareceres contrários dos outros parlamentares, com o argumento de que a doação tem de ser um ato voluntário e gratuito.

— Nem sabia desse outro projeto. Se você fizer um levantamento, quantas pessoas doam sangue espontaneamente? E são as doações que alimentam grande parte do estoque dos hospitais. Quero, com o projeto, estimular, no bom sentido, a doação — afirma Dinamite, que critica as queixas do setor cultural quanto ao uso da meia. — Com todo o respeito ao setor, ele tem de buscar outros caminhos para que possa ter um público à altura dos seus espetáculos. O trabalho do artista não é só apresentar uma peça ou show, é fazer com que esse espetáculo tenha casa cheia. Aliás, não estou desejando nada a ninguém, mas o artista também está sujeito a precisar de doação de sangue.

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Para o deputado, a meia-entrada não invalida outros mecanismos que possam ser criados para aumentar o acesso à cultura, como subsídios públicos que pagassem uma parcela da meia-entrada, algo já sugerido por profissionais da cultura:

— A cultura é a área em que mais têm crescido os incentivos públicos e privados. Ninguém quer impor nada. Se for necessário uma contrapartida para essa meia, vamos discutir essa contrapartida.

O projeto, que institui a meia para doadores registrados no HemoRio e em hospitais estaduais, ainda não foi votado e já começou a causar a reação do meio cultural.

— Vamos criar meia-entrada para os soldados do Corpo de Bombeiros, para os atletas olímpicos. Meia para os desempregados — ironizou o produtor de cinema Luiz Carlos Barreto. — Desse jeito, toda corporação vai querer reivindicar isso. A classe média alta é que vai ao cinema hoje no Brasil. Nem a classe média média vai mais. Falta uma política de preços de ingresso. O preço médio do bilhete de cinema no Brasil era de até US$ 1 nos anos 70 e 80, e hoje é de US$ 4. E a evolução do salário brasileiro não acompanhou isso.

O ator Ney Latorraca também é contra a criação de um novo tipo de meia-entrada.

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— Já reparou que sempre sobra pra gente? Acho que eles devem pensar: "Ah, são artistas, estão todos bem de vida, saindo em revista". Não é que não queiramos ajudar as pessoas; somos visionários, essa é nossa função, então podemos fazer apresentações para doadores, para as crianças. Mas que não se diminua mais nossa bilheteria. Eu não pago meio condomínio, meio supermercado... — afirmou o ator. — Ou, então, que se tenha a meia-entrada, mas com uma subvenção do governo, que ele pague uma parte dessa bilheteria de meia às produções, como acontecia no teatro em São Paulo nos anos 60 e 70. Hoje, as temporadas teatrais cariocas são curtas porque, quando acabam os recursos da Lei Rouanet, acaba a temporada, já que não dá para depender da bilheteria para continuá-la.

No evento de lançamento da Associação de Colaboradores do Museu da Imagem e do Som, na última quinta-feira, Luiz Carlos Barreto sugeriu ao secretário estadual de Cultura, Luiz Paulo Conde, também presente ao evento, a criação de um mecanismo estadual de vale nos moldes do Ticket Cultural que está sendo planejado pelo Ministério da Cultura (que pretende lançá-lo este ano).

— É uma espécie de ticket-refeição para a cultura, que poderia ser usado pelo trabalhador na hora de consumir produtos culturais. Seria o mais eficaz para se colocar a massa trabalhadora de volta no consumo de cinema, teatro, literatura... — completa o produtor. — O cinema é uma casa comercial, como o Ponto Frio, a Sendas. Quem decide o preço da geladeira não é só a loja, é o produtor da geladeira. Da mesma maneira, acho que donos de cinema têm de se reunir com os cineastas e produtores para criarem uma política de preços do setor. O que não pode continuar é a criação de medidas apenas paliativas e paternalistas.

Segundo o secretário Luiz Paulo Conde, foi criado um grupo de trabalho no órgão para discutir a questão da meia-entrada.

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