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John Lennon e Yoko Ono (na foto, com uma fã) falaram de sua cama, nos EUA, para o mundo: “deem uma chance a paz” | AFP
John Lennon e Yoko Ono (na foto, com uma fã) falaram de sua cama, nos EUA, para o mundo: “deem uma chance a paz”| Foto: AFP

São Paulo - Realizado em 2006, Os EUA x John Lennon, documentário de David Leaf e John Scheinfeld, demorou quatro anos para entrar em cartaz no Brasil. Acabou chegando numa boa hora, quando se completam 30 anos do assassinato do ex-Beatle, em Nova York. O filme está em cartaz no Unibanco Arteplex, do Shopping Crystal.

Num tempo em que a celebridade mais fácil decorre de uma superexposição da intimidade, é uma boa oportunidade rever o perfil de um astro de rock que se tornou famoso não só pela qualidade de suas canções e declarações bombásticas, mas por um engajamento político intenso.

Este engajamento é justamente o centro do documentário, que foca a perseguição movida pelo então presidente dos EUA, Richard Nixon, e o chefe do FBI, Edgar Hoover, que mandaram espionar Lennon e fizeram de tudo para deportá-lo do país, em meados dos anos 1970.

Como não poderia deixar de ser, o documentário faz um uso intensivo de material de arquivo - e há uma enorme fartura de imagens de Lennon, entrevistado hábil e bom de mídia, além de combatente em prol das causas que ele entendia como progressistas.

O que lhe valeu o ódio de Nixon e Hoover foi justamente sua luta contra a guerra do Vietnã. Por onde ia, Lennon atraía atenção. Suas músicas, como "Give Peace a Chance", viravam hinos na boca de milhares de ativistas em passeatas de protestos pacifistas por todo mundo - inclusive na porta da Casa Branca.

Fora isso, o músico inglês havia decidido morar em Nova York com sua mulher, a japonesa Yoko Ono, ao lado de quem assumiu mais esta persona pública.

O governo norte-americano achou que a saída mais simples era expulsar os indesejáveis do país. Além do mais, não gostaram nada quando um concerto organizado por Lennon conseguiu tirar da cadeia um ativista, John Sinclair, condenado a dez anos de prisão por ter passado dois cigarros de maconha.

Esse poder de comoção, mais a amizade com ativistas radicais, como Abbie Hoffman, Jerry Rubin e os Panteras Negras, fizeram o resto, ativando o espírito anti-Lennon da administração Nixon.

O filme reconstitui não só a defesa de Lennon num processo de deportação - que recorreu a um advogado experiente, Leon Wildes, que, curiosamente, pegou uma causa que achava perdida - como à sua época. Amigos como os Panteras Negras Ângela Davis e Bobby Seale, além do escritor Gore Vidal e do apresentador de tevê Walter Cronkite, entre outros, são entrevistados, fazendo um balanço daqueles tempos de alta temperatura política.

Embora visivelmente caminhe ao lado de Lennon, o filme não o endeusa nem santifica. Faz uma ótima crônica de uma época com muitas diferenças, mas também muitas semelhanças com a atual, e oferece material sólido para reflexão.

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