Desde que anunciou o “hiato”, em 2007, a banda carioca Los Hermanos frequenta uma zona confortável. Faz turnês eventuais – a próxima passa por Curitiba, em outubro – e sempre concorridas. Vive de memória, daquilo que construiu ao longo de dez anos e quatro discos – foi o último grande grupo de rock brasileiro a colocar lado a lado público e crítica. Por isso não tem muito que perder. Porque o passado ninguém muda.
É com esse “escudo” que a atriz e cineasta Maria Ribeiro – uma das apresentadoras do programa Saia Justa – lança o documentário Los Hermanos – Esse é Só o Começo do Fim da Nossa Vida, que terá só três sessões em Curitiba, de quinta-feira (14) a domingo (17). Histeria e loucura à vista, portanto.
Concorrido
O filme estreou no Festival É Tudo Verdade, em São Paulo, em abril de 2014. A fila começou a se formar na porta dos cinemas ainda de manhã e, próximo ao horário das sessões, dobrava as esquinas.
Ex-colega de faculdade de Marcelo Camelo e Rodrigo Amarante – eles estudavam jornalismo na PUCRJ –, Maria é fã assumida. Tentou fazer um documentário em 2007. “Marcelo Camelo disse não. Eles estavam em um momento muito delicado”, explica a cineasta. A ideia ressurgiu com mais força em 2012, durante o anúncio da primeira turnê pós-hiato. O Los Hermanos fez shows em 12 cidades do país. O filme acompanha as apresentações em cinco delas (Recife, Brasília, Salvador, Porto Alegre e Rio de Janeiro) e revela, ainda que com um olhar quase ingênuo, os bastidores dos shows, momentos de intimidade e a participação calorosa dos fãs.
Na primeira cena do filme, Camelo e Amarante andam de um lado para o outro antes de subir ao palco e cantar “O Vencedor”, em show no Recife. “Parece alguém esperando o filho num corredor de hospital”, define Maria. O nervosismo é escancarado.
O filme alterna, então, cenas dos shows e momentos anteriores e posteriores às apresentações. “Me joguei na estrada. Não queria interferir. A ideia era passar pelos perrengues junto com eles”, conta a cineasta. Por isso não há entrevistas formais. Apesar de que, em uma conversa com o baterista Barba, uma explicação racional para a separação finalmente acontece. “Estes dez anos juntos nos desgastaram muito. Tínhamos medo de não ter o que falar. De ficar se repetindo”, diz o músico, com um taco de sinuca nas mãos.
Los Hermanos – Esse é Só o Começo do Fim da Nossa Vida. Cinemark Barigui.
Dias 14, 16 e 17 de maio, com sessão sempre às 21 horas.
Para além de fãs emocionados, viagens de ônibus, vans e avião e escolhas de set list, algumas subnarrativas interessantes escorregam por entre os 80 minutos do documentário. Por exemplo, a confirmação da amizade aparentemente inabalável da dupla barbuda. Em um depoimento, Camelo e Amarante falam sobre o chulé do primeiro após uma viagem de 27 horas ao Japão. Xingam-se mutuamente, como se xingam os melhores amigos.
Cenas sutis, porém definidoras, estão mais para o fim do filme. Após um show e antes de outro, a banda, atenta, acompanha a própria apresentação no computador, via internet. Exceto por Amarante, ausente. E por Camelo, que conversa com Mallu Magalhães ao longe.
A tensão do início da turnê já não existe. Antes dos últimos shows, a banda brinca de ensaiar. É uma cumplicidade não exigente, que revela que as coisas já não são iguais, apesar do reencontro. Amarante mostra uma música sua ao amigo. “É meio índio, meio Caymmi”, responde Camelo, que, por sua vez, toca uma composição em parceria com o trompetista norte-americano Rob Mazurek.
Se biografias e documentários são feitos de luzes e sombras, na busca pelo retrato exato de personagens reais e por isso complexos, o filme deixa a desejar porque só consagra o que já é meio consagrado. A “desculpa” é aceitável, porém. “É um documentário de fã. Feito para matar as saudades”, diz Maria Ribeiro. O show em Curitiba, no dia 16 de outubro, será na Pedreira Paulo Leminski. Há mais de 22 mil pessoas confirmadas no evento oficial da apresentação no Facebook.
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