Em cartaz na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, Os Gracies e o Nascimento do Vale-Tudo conta como o jiu-jitsu chegou ao Brasil, por meio da mais famosa e tradicional família de lutadores do mundo. E resgata, com isso, também as origens do vale-tudo.

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Dirigido por Victor Cesar Bota, em seu primeiro longa-metragem, o documentário começa mostrando como Carlos Gracie, em 1914, aprendeu a lutar jiu-jitsu, arte marcial até então restrita aos japoneses, utilizada para vencer estrangeiros e por isso mesmo proibida de ser divulgada. Mas como um favor aos Gracies, um imigrante acabou passando os segredos da poderosa luta a Carlos, que deu início a um legado, primeiro no Brasil, e que chegaou a vários países do mundo, inclusive nos Estados Unidos, onde atualmente vários integrantes da família vivem.

Carlos passou as técnicas da luta, assim como sua filosofia, para os irmãos e depois respectivamente para os netos e sobrinhos, criando não apenas uma tradição, mas um exército. Reunindo depoimentos de três gerações da enorme família, "Os Gracies e o nascimento do vale-tudo" tem méritos. Reconta uma história marcada por sucesso e por alguns dramas, inclusive com imagens antigas e de arquivo pessoal, verdadeiras preciosidades –incluindo cenas domésticas de Rolls Gracie, um dos mais respeitados integrantes da família, morto no início dos anos 80, ainda jovem, em um acidente de asa delta.

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O filme mostra ainda como, de geração em geração, os integrantes da família Gracie foram transformando o jiu-jitsu japonês, acrescentando a ele ingredientes de outras artes marciais. E criando, como consequência, os primeiros campeonatos de vale-tudo, já que as regras de uma só modalidade esportiva não poderiam ser aplicadas àqueles combates, mistos de várias artes marciais.

E se ao mergulhar no passado da família Gracie o documentário ganha pontos, ele também tem muitas falhas. Falta qualidade, há graves problemas de áudio e alguns de edição. Além disso, o diretor opta por se manter apenas na superfície da história da família, não se aprofundando em sua vida pessoal, suas discórdias e nos tantos problemas que, ao longo dos anos se tornaram notórios. Além disso, o cineasta ouve apenas uma única integrante mulher da família, deixando de lado a perspectiva feminina que em muito poderia enriquecer seu filme.

E, para completar, algo que talvez seja até inevitável: a certa altura do longa, o espectador se perde em tantos filhos, netos e sobrinhos, quase todos com nomes iniciados com a letra R. Carlos acreditava que a letra dava força à pessoa, o que fez com que 90% de seus familiares fossem batizados com nomes semelhantes, causando enorme confusão.