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Salinger: distância da badalação e do mundinho intelectual de Nova York | Reprodução
Salinger: distância da badalação e do mundinho intelectual de Nova York| Foto: Reprodução

A vida do escritor norte-americano J. D. Salinger, nascido Jerome David Salinger, em 1919, tem assunto suficiente para alimentar, ao menos, um mês de tablóides. Autor de apenas quatro livros – o mais famoso é O Apanhador em Campo de Centeio, 1951 – viveu recluso.

Existem poucas fotos dele e a mitologia que o cerca, na verdade, é mais conhecida do que sua própria obra – como sua obsessão com adolescentes até o suposto fato de que bebia sua própria urina.

O documentário Memórias de Salinger, de Shane Salerno, em cartaz em cinemas de São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, pouco (ou nada ajuda) a iluminar essa figura controvertida da literatura norte-americana.

O diretor é coautor de uma biografia sobre o escritor, que acaba de ser lançada no Brasil, e cuja pesquisa também serviu de base para o filme. Responsável pelo roteiro de filmes como Alien vs Predador 2 e um possível Avatar 4 (previsto para 2018), Salerno não parece ter muito tato para um documentário.

Amigos

O filme, que traz entrevistas com amigos de Salinger, escritores e outras personalidades, se contenta em ser superficial e convencional. Os depoimentos não trazem tanta novidade assim, mesmo de pessoas próximas a ele.

Um dos entrevistados, por exemplo, diz que o sonho do autor, quando jovem, era publicar um texto na revista The New Yorker, pois era o lugar para um escritor começar – uma informação que se encontra facilmente na internet.

Nem o depoimento da escritora Joyce Maynard, com quem Salinger teve um relacionamento nos anos de 1970, é capaz de trazer fatos que já não foram explorados em seu livro de memórias de 1998.

Em dezembro de 1980, Mark Chapman matou a tiros John Lennon, e carregava consigo uma cópia de O Apanhador em Campo de Centeio. Talvez pudesse ser As Vinhas da Ira, Lolita ou até a Bíblia, mas, claro, criou-se outra mitologia em torno do fato e de outras tentativas de assassinatos, alguns consumados, como o da atriz Rebecca Schaeffer, em 1989. Todos os criminosos dizem que o livro os influenciou.

Salerno dedica um bom segmento ao romance, o que é óbvio. Celebridades contam como o livro os afetou, e adolescentes ao redor do mundo, na rua, em parques ou sala de aula, mostram que o estão lendo.

Quando Salinger se isolou em New Hampshire, em 1953, ele queria paz, distância da badalação e do mundinho intelectual de Nova York – embora o filme faça parecer que esse ato foi uma tentativa de buscar ainda mais fama.

Memórias de Salinger é tão equivocado quanto essa ideia que tenta vender. Intrusivo – tal qual a insuportável trilha sonora assinada por Lorne Balfe – o documentário, que em sua forma é bastante amador, não desperta a curiosidade daqueles que desconhecem o autor, nem ilumina quem já conhece.

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