Gravado por Moraes Moreira ao vivo na Feira de São Cristóvão, no Rio , CD e DVD trazem 21 canções de todas as fases do grupo| Foto: Evandro Teixeira/Divulgação

Os Novos Baianos tiveram importância significativa na música brasileira da década de 1970. Ao misturarem ritmos típicos do Brasil ao rock foram, em plena ditadura militar, uma espécie de refúgio de jovens que se aproximavam da chamada contracultura.

CARREGANDO :)

Formado por Moraes Moreira, Baby Consuelo, Pepeu Gomes, Paulinho Boca de Cantor, Luiz Galvão e aparentados com a banda A Cor do Som, os Novos Baianos lançaram oito discos em dez anos. O antológico Acabou Chorare (1972) foi escolhido, inclusive, o melhor disco brasileiro da história pela revista Rolling Stone.

Toda essa rica história é contada por Moraes Moreira – "É a minha visão", avisa – em Moraes Moreira – A História dos Novos Baianos e Outros Versos, lançado pela Biscoito Fino em forma de CD e DVD.

Publicidade

Gravado ao vivo na Feira de São Cristóvão, no Rio de Janeiro, em junho de 2008, o material traz 21 canções de todas as fases do grupo. As músicas são entremeadas por versos típicos da literatura de cordel, escritos pelo próprio Moraes Moreira, que contam parte dessa história: o início e o primeiro disco (É Ferro na Boneca, de 1970); a mudança para uma cobertura no bairro de Botafogo; a visita fundamental de João Gilberto – que deu nova cara aos Novos Baianos –; até a saída de compositor, que começou carreira-solo em 1980.

"Essa ideia partiu do livro [homônimo] que lancei em 2007. Acho no mínimo diferente contar por meio da literatura de cordel a minha versão da história do grupo. É um registro para as novas gerações, já que a meninada sempre vive perguntando as coisas do grupo pra mim", disse o músico, um dos principais compositores dos Novos Baianos, ao lado de Galvão.

O nome do grupo surgiu ao acaso. Em 1969, os amigos se inscreveram para o 5º Festival de Música Popular Brasileira com a canção "De Vera". Na apresentação, um funcionário da Rede Record, ao avisar que era hora de entrarem no palco, gritou "Chama esses novos baianos".

Quarenta anos depois, Moraes Moreira ainda enaltece o "movimento" causado pelos Novos Baianos, que também pegaram carona na emergente Tropicália.

"Era um momento de ditadura no Brasil, de censura. Mas nós tínhamos muita vontade de fazer as coisas. Tínhamos um repertório já consolidado mesmo antes de gravar as músicas. Eram canções superbrasileiras, mas universais também. Guitarra e bandolim ali, juntos", disse o baiano de 62 anos, que considera uma "prestação de contas" esse registro.

Publicidade

Os músicos conviviam o tempo todo. Seja na cobertura em Botafogo ou no "Cantinho do Vovô", chácara para onde se mudaram na metade dos anos 1970. O resultado era, invariavelmente, musical.

Projetos

"A gente ouvia tudo no sítio. João Donato, Luiz Gonzaga, Chico Buarque. Mas foi a chegada do João Gilberto que deu um equilíbrio grande para nós. Também gostávamos de rock. Ouvíamos muito Jimi Hendrix e Janis Joplin", explicou Moreira, que também avisou: os Novos Baianos não voltam. "Não sou a favor dessas coisas nostálgicas."

Um grupo de amigos reunidos, tocando por prazer e reinventando a música brasileira. Seria possível algo nesses moldes hoje? "Não sei. Aquele foi um momento histórico cheio de circunstâncias que propiciaram isso. Havia um trabalho coletivo ali e estávamos todos voltados para aquela história. Mas a música brasileira sempre fica, sempre há novos talentos. Quando ouvi Chico Science pela primeira vez, lembrei muito dos Novos Baianos", confessou o compositor.

Além de tradicionais e conhecidas faixas ("Ferro na Boneca", "Acabou Chorare", "A Menina Dança"), há faixas-homenagens, como "Samba da Minha Terra" (de Dorival Caymmi), "Forró do Brasil", (de Hermeto Paschoal) e Brasileirinho (de Waldir Azevedo), além de duas faixas inéditas: "Spock Frevo Spock" e "Oi". Em todas elas, há a participação de Davi Moraes, filho de Moraes Moreira.

Publicidade

O baiano ainda trabalha, neste ano, em um documentário sobre sua vida. Dirigido por Régis Faria, deve estrear em 2009. Para 2010, Moraes Moreira lança outro livro: Viva o Doutor Iosná, obra sobre aquele que é considerado o inventor do trio elétrico.