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Laís Bodanszki dirige seu terceiro longa-metragem, As Melhores Coisas do Mundo | Fotos: Divulgação
Laís Bodanszki dirige seu terceiro longa-metragem, As Melhores Coisas do Mundo| Foto: Fotos: Divulgação

Diretoras

Em meio a uma lista que cresce a cada ano, selecionamos algumas das principais diretoras brasileiras e seus filmes mais significativos

Daniela Thomas

Terra Estrangeira (1996) e Linha de Passe (2007) (co-dirigidos com Walter Salles) e Insolação (2009, com Felipe Hirsch)

Eliane Caffé

Narradores de Javé (2003)

Ana Muylaert

É Proibido Fumar (2009) e Durval Discos (2002)

Helena Ignez

Canção de Baal (2008)

Laís Bodanzky

Bicho de Sete Cabeças (2001), Chega de Saudade (2008)

Tata Amaral

Antonia (2006) e Um Céu de Estrelas (1997)

Susana Amaral

A Hora da Estrela (1985), Hotel Atlântico (2009)

Paula Maria Gaitán

Diário de Sintra (2007)

Lucia Murat

Quase Dois Irmãos (2004)

Sandra Werneck

Cazuza, O Tempo não Pára (2003) e Meninas (2005)

Carla Camurati

Carlota Joaquina, Princesa do Brasil(1995)

Marília Rocha

A Falta Que Me Faz (2009)

Ana Luíza Azevedo

Antes que o Mundo Acabe (2008)

Lina Chamie

A Via Láctea (2007)

Monique Gardenberg

Benjamin (2004)

Maria Augusta Ramos

Juízo (2004) e Justiça (2007)

Marina Person

Person, um Cineasta de São Paulo (2003)

Paranaenses

Heloísa Passos

Deserto D’Água (2008)

Ingrid Wagner

Helmuth Wagner - Alma da Imagem (2009)

Monica Richbieter

Retratos da Fé(2009)

Salete Machado

Conexão Brasil (2001)

  • Em Diários de Sintra, Paula Gaitán fala do luto pelo marido, Glauber Rocha

Tata Amaral. Suzana Amaral. Ana Muylaert. Lúcia Murat. Laís Bodanszki. Daniela Thomas. Uma rápida repassada e vários nomes de diretoras vêm à mente. Se há poucas décadas, uma ou outra mulher se destacava entre os cineastas, hoje elas se multiplicam em funções até então consideradas de domínio dos homens.

"Hoje em dia há mulheres por toda parte, na produção, direção de arte, montagem, figurino", diz a curitibana Heloísa Passos. Pouquíssimas, como ela, são diretoras de fotografia. "Até então, era uma atividade muito masculina e agora temos a Helô, a Kátia Coelho, a Janice D’Ávila, que são fantásticas", cita a diretora Paula Gaitán, diretora do documentário Diários de Sintra, em cartaz em São Paulo e Salvador.

Entre um trabalho de fotografia e outro (como o de Viajo Porque Preciso, Volto Porque Te Amo, de Karim Aïnouz e Marcelo Gomes), Heloísa também grita "ação!". Em 2009, ela dirigiu um novo filme, o documentário em média-metragem Deserto D’Água, contemplado no edital de cinema e vídeo do Paraná, e fotografou cinco filmes.

"Se há mais mulheres dirigindo? Basta dizer que desses filmes que fotografei, três são de diretoras mulheres", responde por e-mail, de Nova York, onde está fotografando. São os longas Como Esquecer, de Malu de Martino, e Rânia, de Roberta Marques, e o curta Estação, de Márcia Farias.

Mas existe a tal "perspectiva feminina" por trás dos filmes dirigidos por mulheres? "Basta uma mulher estar no comando", considera Heloísa. Para Paula Gaitán, "o cinema é universal, não existe separação entre cinema masculino e feminino, o que importa é que ele seja de invenção, de pesquisa, que lance um olhar peculiar, sensível sobre o mundo".

Em seu filme, ela refaz o percurso de seu marido, o cineasta Glauber Rocha, no período em que eles viveram em Sintra, Portugal, pouco antes da morte do diretor, em 1981, como uma forma de abordar o seu próprio luto. "Um homem pode falar sobre o luto, evidentemente, mas eu trato deste tema de uma maneira etérea, onírica, com uma pessoalidade muito característica das mulheres. Mas há muitos homens que fazem ‘cinema feminino’ e mu­­lheres que fazem filmes muito duros", diz Paula.

Gosto pelo masculino

A veterana Suzana Amaral es­­treou como diretora com A Hora da Estrela, baseado na obra de Clarice Lispector, que rendeu a Marcélia Cartaxo o prêmio de melhor atriz no Festival de Berlim, em 1986, mas afirma ter se cansado da temática feminina. Seu filme mais recente, Hotel Atlântico, é um mergulho na masculinidade a partir da obra do escritor gaúcho João Gilberto Noll. "Queria sair daquele universo intimista dos meus filmes anteriores e partir para uma narrativa mais vigorosa, totalmente alternativa", diz a diretora, que revela não ter paciência para lidar com questões de "mulherzinha".

Há tempos, Susana roteirizou outra obra de Clarice, Perto do Co­­ração Selvagem, mas engavetou o projeto. "Gostaria de continuar mergulhada no universo masculino. Sonho em escrever uma história com quatro homens: José Dumont, Lázaro Ramos, Gero Camila e Júlio Andrade", conta.

Exatamente ao contrário de Paula Gaitán, que se prepara para filmar a adaptação do romance Sobre a Neblina, da mineira Christiane Tassis, com sete atrizes, entre elas a franco-brasileira Clara Choveaux (Tiresia), a premiada em Cannes Sandra Corveloni (Linha de Passe) e Tainá Muller (Cão sem Dono). O epicentro do filme são os variados olhares femininos sobre um mesmo homem, vivido pelo ator italiano Vicenzo Amato, um fotógrafo que está perdendo a memória e sai à procura destas mulheres para imortalizar sua história.

Autoria

Tal como Suzana Amaral, muitas diretoras transitam com desenvoltura entre universos temáticos mais yin ou yang. Laís Bodanszki, por exemplo, estreou com o premiado Bicho de Sete Cabeças, mais árduo, fez o público dançar nas salas de cinema com o lírico Chega de Saudade, e agora se prepara para lançar em abril um filme sobre os dilemas da adolescência, As Melhores Coisas do Mundo – mesma temática abordada pela gaúcha Ana Luíza Azevedo em seu primeiro longa-metragem, Antes Que o Mundo Acabe.

Se a sensibilidade feminina é bem-vinda dentro dos filmes, no set de filmagem as diretoras precisam exercitar seu lado masculino, físico, para lidar com as agruras de uma função de comando. "Busco o tempo todo quebrar com a minha virilidade, pois tive e tenho que ser muito forte e decidida para conquistar o que almejo, então, quando estou perto de transformar o roteiro ou projeto em imagens, busco a minha doçura, meu lado lúdico, e aí meu lado feminino está sempre presente", define Heloísa Passos.

No Brasil e no exterior, as diretoras hoje são responsáveis por alguns dos filmes mais ousados, seja pela temática ou pelas opções estéticas. "As mulheres estão fa­­zendo trabalhos muito autorais, pela força das suas obras, a profundidade, porque ousam entrar em espaços desconhecidos, têm muita coragem. Você vai aos festivais e se surpreende pela radicalidade, os temas fortes, às vezes políticos, de seus filmes", diz Paula Gaitán, que vê semelhanças en­­tre seu filme, Diários de Sintra, e o da diretora francesa Agnés Varda, autora de As Praias de Agnès, documentário autobiográfico em que também fala de si e de sua relação com o marido, o cineasta Jacques Demy (1931-1990).

No ano passado, o Festival de Gramado foi marcado pela presença de filmes de quatro diretoras latino-americanas, entre elas, a peruana Claudia Llosa (de A Teta Assustada) e a atriz musa do Cinema Novo, Helena Ignez. A brasileria exibiu o que foi, de longe, a ficção mais autoral da mostra competitiva de longas-metragens brasileiros: a fábula musical antropofágica Canção de Baal, uma livre adap­tação da peça Baal, do dramaturgo alemão Bertolt Brecht.

Dentre as questões propostas pela diretora, está o machismo, que ela conta ter experimentado ao longo de toda a sua vida. Baal (vivido pelo cantor Carlos Careqa) é o arquétipo do artista beberrão e machista que seduz todas as mu­­lheres – entre elas, as ótimas Si­­mone Spoladore e Djin Sganzerla. A crítica vem pelo viés do bom humor, uma prerrogativa do cinema desta atriz que só passou a dirigir depois de se libertar do peso de ter sido casada com um dos maiores diretores brasileiros, Rogério Sganzerla. "Com Rogério, era impossível disputar. Então, o projeto de direção foi sendo adiado", conta Ignez.

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