Em pleno Dia Mundial do Rock, nada como ouvir um álbum e ter a certeza de que o gênero ainda está longe de ter sua morte declarada. Um dos motivos que assegura tal previsão é sua versatilidade. Capaz de contagiar platéias e pôr o mais tímido dos seres para sacudir o esqueleto, o rock também pode sonorizar, com a mesma competência, momentos românticos e períodos conturbados, sendo, para muitos, a trilha sonora de uma vida toda.
Esae parece ser o caso do vocalista/guitarrista/baterista Dave Grohl, líder do Foo Fighters, banda que acaba de lançar seu quinto registro, In Your Honor, em formato duplo: um contendo faixas pesadas e barulhentas; outro, apenas recheado com baladas semi-acústicas. Hiperativo de carteirinha além do Foo Fighters, Grohl volta e meia toca bateria em bandas de amigos, como Queens of the Stone Age, Killing Joke, Nine Inch Nails e Garbage , o músico deu vazão a sua superprodutividade, após uma crise de cansaço. Há um ano e meio, Grohl chegou a cogitar a possibilidade de acabar com a banda, mas mudou de idéia, construiu um estúdio e compôs cerca de 40 canções.
Inspirado pelo clássico Physical Graffiti, álbum do Led Zeppelin, lançado em 1975, Grohl quis comprovar a dinâmica de sua banda, tanto em composições vigorosas quanto nas canções mais delicadas em um registro que, segundo o músico, tinha a intenção de ser definitivo.
Exageros à parte In Your Honor não chega a superar o ótimo The Colour and the Shape (1997) , a proposta do novo álbum do quarteto liderado por Grohl atinge seus objetivos iniciais e mostra a banda à vontade entre dois extremos: a fúria e a doçura.
Já na faixa de abertura do primeiro CD (o pesado), a canção que dá nome ao álbum adianta a visceralidade do registro. Sob um paredão de guitarras e uma bateria quase marcial, o vocalista rasga a garganta gritando o que, possivelmente, deverá virar uma espécie de jargão das apresentações ao vivo, "Em sua honra morrerei esta noite, para que você se sinta vivo", verso que, após uma parada dramática de cinco segundos, desemboca em uma quebradeira metaleira à la Motörhead.
O susto passa com a segunda faixa, "No Way Back", que assim como o single de lançamento, "Best of You", aposta na fórmula infalível utilizada nos registros anteriores: bateria acelerada, riffs ganchudos e refrões grudentos. Influências de hard rock predominam nas canções "DOA", "Hell" e "End over End"; a excelente "The Last Song" remete às sonoridades de The Colour and the Shape; e as baladas "Resolve" e "The Deepest Blues Are Black" só não estão no segundo CD graças aos refrões pesados e cheios de distorção.
A delicadeza da bela "Walking after You" (presente no registro de 1997) dá o tom de "Still", faixa que abre a parte acústica de In Your Honor. Sem medo de assumir sua faceta Damien Rice (cantor e compositor irlandês), Dave Grohl despeja doçura em faixas como "What If I Do?", "On the Mend" "Miracle" e "Another Round" as duas últimas com a ilustre participação de John Paul Jones (ex-Led Zeppelin), tocando piano e mandolin.
Escrita há quinze anos, "Friend of a Friend" é uma homenagem singela a Kurt Cobain, descrito na canção como um garoto que causa silêncio entre os amigos ao tocar uma velha guitarra em seu quarto fechado à chave: "Ele acha que bebe demais/pois quando diz a seus dois melhores amigos/'Eu acho que bebo demais'/ninguém fala nada", lembra Grohl. O CD ainda conta com um momento bossa-nova em que a cantora de jazz Norah Jones faz um dueto com o vocalista na canção "Virginia Moon".
Se o ponto era provar sua versatilidade, o Foo Fighters completa a tarefa com sucesso em In Your Honor, com o mérito de não cometer excessos em seus rompantes de criatividade. Resta saber como a banda irá integrar as duas facetas frente a estádios repletos, algo que os brasileiros, possivelmente, poderão comprovar em um dos festivais que tomam conta do calendário nacional a partir do mês de setembro. GGG1/2
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