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Os atores Viggo Mortensen e Kodi Smit-McPhee são pai e filho no comovente A Estrada, de John Hillcoat | Divulgação
Os atores Viggo Mortensen e Kodi Smit-McPhee são pai e filho no comovente A Estrada, de John Hillcoat| Foto: Divulgação

Cormac McCarthy, um dos maiores escritores norte-americanos vivos, é até sortudo no que diz respeito às adaptações de seus livros para o cinema. Se Espírito Selvagem, baseado no seu romance Todos os Belos Cavalos, é frustrante, Onde os Fracos Não Têm Vez, de Ethan e Joel Coen, é tão brilhante quanto a obra que o origina. E A Estrada, mais recente transposição de um romance de McCarthy levada à tela grande, não fica muito atrás.

Vencedor do Prêmio Pulitzer, o livro de McCarthy é devastador. Em um futuro indeterminado, depois de uma hecatombe, um homem e seu filho vagam por um mundo quase morto, onde as árvores secaram, a comida é escassa e a luz do sol é pálida. Os seres humanos sobreviventes resistem numa terra sem lei, perdem aos poucos as referências de civilização e muitos recorrem à bestialidade, tornando-se canibais, estupradores e assassinos.

Na competente adaptação de John Hillcoat, não completamente fiel à obra que o originou, foi preservado o principal: o clima de profundo desolamento e de falta de esperança que contrasta com o infinito amor que une o homem (Viggo Mortensen, que merecia ter sido indicado ao Oscar de melhor ator) e o seu menino (Kodi Smit-McPhee, excelente). Isso é motivo de alívio e certo júbilo. Pode até não ser tão sensacional quanto o romance, mas não o envergonha de forma alguma.

O filme incomoda muito. É árido, cruel e, por vezes, insuportável para quem vai ao cinema em busca (apenas) de diversão. Isso é um bom sinal. É importante quando o cinema provoca desconforto e até rejeição.

O brilhante trabalho do diretor de fotografia Javier Aguirresarobe (de Vicky Cristina Barcelona e Lua Nova), espanhol que começa a ganhar espaço no cinema americano, ajuda a transportar o público a esse mundo quase no fim, horrível e opressivo. Assim como a direção de arte, os figurinos e a trilha sonora (coassinada por Nick Cave).

Embora tenha um desfecho levemente mais otimista do que o livro, isso não chega a ser uma concessão grave ou uma traição ideológica ao romance. A Estrada é um filme do qual não se sai ileso.

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