Drummond em Paraty

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Houve um tempo, já distante, em que ler, memorizar e até declamar poemas em público eram práticas costumeiras no Brasil. São poucos os poetas nacionais, no entanto, que seguem de alguma forma presentes no imaginário popular. Carlos Drummond de Andrade é um deles.

Patrimônio literário do país, e ainda muito lido e lembrado, mesmo que também por força do ensino de literatura nas escolas, o autor mineiro, nascido há 110 anos no município de Itabira, é o homenageado deste ano da Festa Literária Internacional de Paraty, que se inicia hoje na bela cidade histórica do litoral fluminense.

Às 19 horas, na Tenda dos Autores, palco principal do evento, o escritor gaúcho Luis Fernando Verissimo falará sobre os dez anos da festa e, logo em seguida, o carioca Antonio Cicero e o mineiro Silviano Santiago, também poetas, descrevem e falam sobre os traços fundamentais da obra de Drummond, que segundo o novo diretor de programação da Flip, o crítico literário e jornalista Miguel Conde, era uma "escolha natural", já que se trata de um dos pilares das letras brasileiras.

Na sexta-feira, às 10 horas, também na Tenda dos Autores, haverá a mesa "Drummond – o Poeta Moderno", da qual participam Antonio C. Secchin, integrante da Academia Brasileira de Letras, e o paulista Alcides Villaça, dois nomes importantes da poesia nacional contemporânea, sob a mediação do jornalista Flávio Moura. Em discussão, os traços modernistas presentes nos escritos de Drummond em seus anos de formação, que antecedem a sua estreia em livro com Alguma Poesia, de 1930.

Esses escritos, artigos e poemas publicados em jornais e revistas, pouco conhecidos do público, têm inegáveis traços do movimento, desencadeado na Semana de Arte Moderna de 1922, mas, como demonstraria sua troca de cartas com Mário de Andrade, um dos ícones maiores da escola, a adesão do mineiro ao ideário modernista não seria irrestrita.

Exposição

Vários desses textos dos anos 20, ditos modernistas, poderão ser conhecidos na exposição Faces de Drummond – O Poeta e Seu Avesso, que estará em cartaz na Casa da Cultura de Paraty, principal sede da programação paralela da Flip.

A mostra, patrocinada pelo jornal O Globo e organizada em parceria com a Associação Casa Azul e a Fundação Roberto Marinho, ocupará o segundo andar do espaço até 10 de dezembro, e apresenta a trajetória do autor aos visitantes por meio de módulos cronológico-temáticos, como "O Provinciano Cosmopolita" ou "O Funcionário Gauche".

O material que compõe a exposição reúne parte do acervo do Arquivo Museu de Literatura Brasileira da Fundação Casa de Rui Barbosa (FCRB). Organizado pelo próprio Drummond, o acervo inclui desde imagens de sua infância até vídeos, como o documentário Fazendeiro do Ar (1972), de Fernando Sabino e David Neves, originais datilografados e contratos assinados com editoras.

Além da mostra Faces de Drummond, as crianças terão a chance de conhecer melhor a obra do poeta mineiro na Flipinha, voltada aos pequenos leitores. As imagens criadas pelo poeta em versos como "Na Cidade Toda Ferro" e "As Casas Espiam os Homens" foram transformadas em desenhos feitos por alunos de escolas públicas das cidades de Paraty, Rio Claro e Angra dos Reis e serão expostos durante a festa.

Relançamento

Dentro do projeto da Companhia das Letras de reeditar toda a obra de Drummond, a editora paulista lança, durante a Flip, mais quatro volumes: Antologia Poética, Sentimento do Mundo, As Impurezas do Branco e José. Também estão previstos os lançamentos de volumes de correspondência, a reedição de uma biografia do autor e a apresentação de uma peça inspirada nas cartas que o poeta trocou com sua filha Maria Julieta (1928-1987).