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Duas garotas bonitas, quase bonecas, de saias volumosas e coloridas. Têm um quê de Alice que se anuncia já no momento em que entram em cena, e na penumbra, soltam os corpos pretendendo se sentar nas cadeiras forradas em padrão oncinha. Mas falta o assento, caem de bunda no chão. Mal-enquadradas, desencaixadas, as meninas de Há um Crocodilo Dentro de Mim, em cartaz no TUC pelo Coletivo Pequenos Conteúdos, se esforçam visivelmente para manter a pose sedutora.

Meninas, porque em parte é o que são, ou ainda tentam ser. Contam histórias sobre coelhos, recriam a ficção pop do King Kong, manipulam objetos e figurinos como divertimento. Mas, de novo como a Alice de Lewis Carrol – uma entre as referências digeridas pela companhia paulista LasNoia –, crescer ou diminuir à estatura infantil são processos em andamento.

Às vezes dá para ver a vida com um olhar lúdico que a embeleza, mas, mesmo quando adotam essa perspectiva, alguma acidez própria da consciência adulta escapa e dá peso à brincadeira permeada de senso de humor, que zomba da lógica. Então provoca questões femininas com o corpo, a gravidez, o sexo – e, independentemente do gênero, a aflição da morte e da vida, o suicídio. São fios soltos que estão lá, numa obra em que as relações não se bastam nem se esgotam. (LR)

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