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O terno e a gravata justificam o momento solene. Marcelo Camelo, ainda que um pouco desengonçado, entoa os primeiros versos de "Dois Barcos".

"Aponta pra fé e rema", diz a canção, escolhida para abrir o último show do Los Hermanos antes de uma pausa por período indeterminado.

A apresentação, que lotou a Fundição Progresso, no Rio de Janeiro, no dia 9 de junho de 2007, deu origem a um registro ao vivo com 26 músicas – cinco canções gravadas na apresentação do dia anterior compõem os extras.

"Primeiro Andar", que vem na seqüência, descortina a contribuição de Rodrigo Amarante, que ao longo de uma década de carreira passou de guitarrista e backing vocal (quando não dava uma palhinha na flauta) a compositor de faixas essenciais na discografia da banda, como "O vento" e "Sentimental", também incluídas no DVD. Estão lá, ainda, o tecladista Bruno Medina e o baterista Rodrigo Barba, peças fundamentais desse equilibrado quarteto.

Se Camelo encarna uma espécie de Ivan Lins roqueiro, Amarante quebra o protocolo com vocais bêbados e coreografia debochada. Quando se vê a banda no palco, fica difícil pensar em muitos outros grupos com o mesmo potencial de entrosamento e criatividade. Da radiofônica "Anna Júlia" à rara "Pierrot", suas músicas pintam um panorama alegre do que um dia foi a música pop brasileira.

A aparente fragilidade cantada em letras como "O vencedor" encontra eco numa platéia invariavelmente descrita como fanática, que canta junto cada estrofe como se fosse a última – nesse caso, é.

"Los Hermanos na Fundição Progresso" – que também originou um álbum com o mesmo nome – é o registro de um momento raro. Não só mata as saudades dos fãs, um ano depois, como deixa escancarada a maturidade de quatro indivíduos que curtem o que fazem (ou curtiram) e não estão lá muito preocupados em simplesmente manter as aparências (e a conta bancária).

Pena que o material não transmita a contento a efervescência do público, que assim como a própria banda, fazia dos shows do Los Hermanos uma experiência sempre interessante.

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