Quando se fala numa biografia de Roberto Marinho, alguns questionamentos pipocam instantaneamente na cabeça dos "progressistas": "biografia do Dr. Roberto, é? Duvido que falem do acordo com a Time-Life; do apoio aos militares; do escândalo da Proconsult; da omissão nas Diretas-Já; ou da edição do Jornal Nacional para o debate entre Collor e Lula, em 1989".
A partir dos depoimentos dos filhos Roberto Irineu, João Roberto e José Roberto, além de amigos e ex-colaboradores como José Bonifácio de Oliveira Sobrinho (o Boni), Cláudio Mello e Souza e Argeu Affonso, entre outros, o documentário Roberto Marinho O Senhor do Seu Tempo não só aborda todos esses temas espinhosos, como explica as decisões tomadas em cada caso, com direito a mea-culpa dos herdeiros e ex-funcionários.
A relação controversa do empresário com os governantes teve início após os ataques sofridos pelo jornal O Globo depois do suicídio de Getúlio Vargas, em 1954. Opositor ferrenho de Vargas, Roberto Marinho se aliara a Carlos Lacerda, e não foi perdoado pela população depois da morte do presidente. Como lembra no DVD o jornalista Cláudio Mello e Souza, assessor de Marinho, O Globo foi apedrejado, e seus carros foram tombados e incendiados. "A partir daí, o doutor Roberto aprendeu que deveria se tornar um grande amigo do governo; qualquer governo", lembra.
Foi com esse pensamento que ele se aproximou do governo militar. Roberto Marinho de fato apoiou os militares contra a "ameaça comunista", mas o documentário mostra também que ele se manifestou contra o endurecimento do regime em mais de uma ocasião: Mello e Souza conta que, no governo Castello Branco, durante uma reunião no Ministério da Justiça em que os proprietários dos meios de comunicação foram convidados a "limpar" as redações dos esquerdistas, Roberto Marinho retrucou: "dos meus comunistas, cuido eu!".
A omissão diante das Diretas-Já também é admitida, sob a justificativa de que o empresário demorou a se convencer de que se tratava de um movimento pela redemocratização e não uma ofensiva da esquerda. Boni revela que Roberto Marinho só foi persuadido pelo filho Roberto Irineu, que prometeu montar uma sala de controle na sala do pai, com a garantia de cortar tudo o que fugisse do "escopo de uma campanha de redemocratização".
A famosa edição do debate entre Collor e Lula, na campanha presidencial de 1989, também é encarada de frente no DVD. "O Collor de fato venceu aquele debate, mas a edição do Jornal Nacional desequilibrou demais a favor dele", confessa o filho João Roberto Marinho. "O Armando [Nogueira] dizia que o Collor tinha vencido por 3 x 2, mas a edição dava a entender que tinha sido por 3 x 0."
Além das polêmicas, o documentário mostra também a trajetória de Roberto Marinho como jornalista e empresário, a fama de namorador, a paixão pelos esportes, a vida em família e o cotidiano na mansão do Cosme Velho. Mas o maior trunfo é retratar o magnata das comunicações em toda a sua natureza demasiadamente humana.
Serviço
DVD Roberto Marinho O Senhor do Seu Tempo. Direção de Rozane Braga. Distribuído gratuitamente em universidades, bibliotecas, colégios, instituições e órgãos do governo, está à venda na Livraria Cultura (www.livrariacultura.com.br), por R$ 44,90.
CNJ compromete direito à ampla defesa ao restringir comunicação entre advogados e magistrados
Detalhes de depoimento vazado de Mauro Cid fragilizam hipótese da PF sobre golpe
Copom aumenta taxa de juros para 13,25% ao ano e alerta para nova alta em março
Oposição se mobiliza contra regulação das redes sociais: “não avança”; ouça o podcast
Deixe sua opinião