Poucas definições e a opção pela não classificação. Apenas a junção da palavra com a fotografia, processo que revela uma forma híbrida de expressão artística. A exposição Luzescrita (confira o serviço completo da exposição), que abre hoje no Paço da Liberdade, em Curitiba, traz a poesia sintética de Arnaldo Antunes e de Walter Silveira "misturada" com fotos de Fernando Laszlo. O resultado são 29 obras entre fotos, objetos e instalações , que esperam pela contemplação, ainda que questionamentos sobre o trabalho possam vir de lambuja.
"Foi um desejo de escrever com luz poemas meus e do Walter", resume o polivalente Arnaldo Antunes, que quando não está compondo ou escrevendo, está pensando sobre as artes visuais e seus possíveis suportes.
Os três artistas Silveira é poeta, músico e videomaker, e Laszlo é fotógrafo de carreira iniciaram a produção das obras em 2002, e a ideia inicial era fazer um livro. E escrevê-lo, por mais surreal que pareça, com o rastro da luz. "Ficamos anos batendo essa bola, a bolar novas soluções para os poemas, que já tinham uma recorrência temática", explica Antunes. Até que, no ano passado, surgiu um convite para expor o trabalho no Solar do Ferrão, em Salvador. "Temos uma tradição na experimentação. Gostamos da poesia em diálogo, dessa ligação com outras linguagens, e do exercício da decifração de um poema", diz o poeta que, assim como Silveira, estará no Paço da Liberdade para a inauguração da exposição, hoje, a partir das 18h30.
A luz, enfim
Luzescrita será exposta em duas salas, uma escura e outra clara, com o objetivo de aumentar a tensão entre os opostos. Todas as obras relacionam a palavra escrita com a imagem, mas há, segundo Arnaldo Antunes, uma discordância enquanto a classificação da poesia como concreta. "Podemos chamar de poesia mais fotografia, mais algumas coisas. Mas não é porque é um híbrido, que não tem definição. Esse é um trabalho livre e o fato de ser híbrido justifica a nossa união", diz.
Para realizar as obras, pólvora, lightpainting, projeções, lâmpadas, cartolinas e outros tipos de recursos que privilegiaram a fotografia analógica. "Foi uma opção para não usarmos truques digitais, não criar uma simulação de feitos. Queremos valorizar a fotografia, a coisa do instante e do mutante", conta o ex-Titã, que volta a expor no Paço da Liberdade em setembro de 2009, o artista ocupou o espaço com a exposição Ler Vendo, Movendo, que sugeria, por meio de recursos físicos, outras interpretações para as palavras. "O espaço é lindo e tem um grande astral. Fico feliz em voltar", diz o artista.
Promiscuidade
Walter Silveira faz parte de uma geração que consolidou a linguagem do vídeo no Brasil, ao lado de, por exemplo, Fernando Meirelles, Tadeu Jungle e Marcelo Tas.
Diretor de tevê e artista intermídia, Silveira realiza projetos autorais e experimentais desde o fim dos anos 1970. E a parceria com Arnaldo Antunes também é longa. "Nos conhecemos há mais de 20 anos. Então digo que esse projeto é meio que homemade [feito em casa]", brinca o artista, que sintetiza, também com bom humor, a essência de Luzescrita. "É um trabalho promíscuo. São signos que transam em várias linguagens. A poesia impressa no papel é uma coisa, mas uma foto ampliada na parede é outra. É uma verdadeira promiscuidade de linguagens, o que é algo bem contemporâneo", conta Silveira.
A exposição fica em cartaz no Paço da Liberdade até junho, e depois segue para a 16.ª Bienal de Artes de Cerveira, em Portugal.
Serviço:
Luzescrita (confira o serviço completo da exposição) Arnaldo Antunes, Fernando Laszlo e Walter Silveira.
Sesc Paço da Liberdade (Pça. Generoso Marques, 180), (41) 3234-4200. Abertura e bate-papo com os artistas: Dia 22, às 18h30. De terça a sexta, das 10 às 21 horas. Sábados, das 10 às 18 horas. Domingos, das 11 às 17 horas. Entrada franca.
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