Grandiosas melodias assoviáveis, certa pretensão, um tom sépia inerente e um repertório étnico-musical profundo fizeram o Beirut se tornar conhecido principalmente desde 2006, quando lançou “Gulag Orkestar”, um disco muito respeitado.
Quatro discos e nove anos depois, a banda norte-americana se tornou uma versão minimalista de si mesma, ao apostar em arranjos cirúrgicos e menos grandiloquentes em “No No No”, lançado no dia 11 de setembro. Mas não perdeu o charme.
Tudo tem uma explicação: após o sólido “The Rip Tide” (2011), Zach Condon encarou um divórcio e foi internado num hospital na Austrália por exaustão.
Deu um tempo, pensou na vida, mas seguiu adiante – com o ukelele na mão.
Talvez por isso as nove músicas que compõem a meia hora do novo disco soem como ar fresco, sem o peso da exaustiva lapidação visível principalmente nos últimos trabalhos.
“Tudo vai ficar bem”, canta ele em “Gibraltar”, a primeira faixa. Uma baladinha despretensiosa ao piano – que parece ter saído de algum disco de Jens Lekman – é a carta de visitas de um disco que, se não é notável, cresce com o tempo porque a essência do Beirut, original, persiste.
Beirut. 4AD. Disponível no Spotify.
“No No No” tem algo de infantil, mas ao mesmo tempo de vaudeville, com coro e metais em sintonia.
A faixa instrumental “As Needed” parece um pedaço de música retirado de algo maior, e poderia ser, sei lá, do Andrew Bird (é bonito). A coisa funciona no uptempo de “Perth”, quando há um peso extra e um indício de groove.
Precipício
A voz de Zach Condon continua como a conhecemos, felizmente: parece ressoar do fim de um precipício infinito para ganhar corpo de repente.
Os “buracos” harmônicos em “Pacheco” simbolizam todo o disco, espécie de raspa do taxo mesclada a um minimalismo conivente.
“No No No” poderia ter sido uma tragédia se a banda o tivesse lançado às pressas, em meio ao turbilhão pessoal pelo qual passava Zach. Não foi. Tal qual seu criador, o disco precisa de tempo, só isso.
Assista ao clipe de “No No No”:
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