Paralelas
Saiba mais sobre a trajetória de Beto Bruel
Família
Desde 1972, Bruel é casado com a atriz Regina Bastos. É pai de Renata, 30, e Betina, 35.
Barracão
Na sede de sua empresa, em Colombo, são realizados ensaios de espetáculos de teatro. A Vida Como Ela É, de Edson Bueno, é um exemplo.
Café do Teatro
Um dos bares mais tradicionais de Curitiba, situado na Rua Amintas de Barros, n.º 154, é um empreendimento de Bruel. Hoje, o Café do Teatro é administrado pela família.
Museu
Bruel mantém, dentro de sua empresa, um "museu do iluminador", com refletores e equipamentos antigos. "Para preservar a memória."
Dizer tudo
Bruel conta que o trabalho com Felipe Hirsch e Daniela Thomas segue um modus operandi: "É preciso falar tudo, na hora. Se não gostei de uma cena, digo. Se o Felipe não gostou da luz, ele fala. "
Paiol da Luz
Bruel também é sócio, ao lado de Rogério Pereira do Couto, da empresa Paiol da Luz, que vende e instala equipamentos para palcos de teatro, e faz reformas em espaços cênicos.
A imagem publicada nesta página, registrada pelo repórter fotográfico Marcelo Elias, teve a colaboração de Beto Bruel. No interior do barracão de sua empresa, a Tamanduá, em Colombo, na região metropolitana de Curitiba, o iluminador paranaense, um dos mais requisitados e importantes do país, ligou e desligou canhões de luz e refletores. Até uma máquina de gelo seco foi acionada.
O lapeano, hoje aos 59 anos, encontrou uma brecha em sua agenda de pouco mais de uma hora para atender a reportagem de a Gazeta do Povo. Em meio a vários e inadiáveis compromissos, ele ainda comemora uma conquista recente e muito significativa.
No dia 18 de Setembro, Bruel recebeu uma chamada telefônica de Seul, capital da Coreia do Sul. Do outro lado da linha (e do mundo), foi informado que ele, Luiz Roberto Bruel, acabara de receber a medalha de ouro na categoria iluminação, por seu trabalho no espetáculo Não Sobre o Amor, dirigido pelo encenador "curitibano-carioca" Felipe Hirsch. O prêmio foi concedido pela Organização Internacional de Cenógrafos, Técnicos e Arquitetos Teatrais (Oistat).
Se Bruel fosse um boleiro, um centro-avante por exemplo, não seria exagero afirmar que ele teria conquistado a Copa do Mundo. O iluminador, que já acumula três estatuetas do Prêmio Shell, não dá saltos nem socos no ar. Com as mãos nos bolsos da calça jeans, é quase monossilábico: "Estou remando, companheiro. Remando".
O reconhecimento, em âmbito internacional, poderia até deixar de queixo caído muitos amigos de Bruel no início da década de 1970. Ele estudava no Colégio Estadual do Paraná e ganhava dinheiro carimbando papéis em um cartório. Em 1971, uns colegas decidiram encenar Pobre Diabo, no Guairinha. Nenhum deles havia lembrado da luz. "Bruel, você poderia ser o iluminador?", pediram a ele. Sem nenhuma experiência, mas com muita vontade, disse sim. E, desde então, já atuou como iluminador em mais de 400 espetáculos.
Bruel não fala nem teoriza a respeito de iluminação. Dentro e fora de sua empresa, ele olha, cruza os braços, observa e manipula os equipamentos. Atualmente, usa o programa de computador Wysiwyg para construir a luz de palco para qualquer evento musical ou cênico. Ano passado, fez a iluminação dos shows que Roberto Carlos e Caetano Veloso realizaram, juntos, em São Paulo e no Rio de Janeiro. Mas, para empregar uma expressão que ele mesmo repete, já "ralou muito".
Antes de abrir a Tamanduá, em 1980, Bruel atuava como iluminador em espetáculos de teatro e de música. Conheceu o Paraná, viajando de ônibus ou em caminhões, para fazer a luz nas apresentações da banda Blindagem. Aos poucos, passou a ter o trabalho conhecido e começou a ser requisitado para ser o iluminador de cantoras como Wanderléa e Clara Nunes, quando elas faziam turnês pelo Paraná. Os tempos eram outros, e a infra-estrutura também. Há 20 anos, não havia hotel em Araucária e, durante as temporadas da Festa do Pêssego e do Ovo, evento anual que ocorre em dezembro, com a presença de diversas atrações, Bruel tinha muito trabalho e, não raro, dormia sobre o palco.
São mais de duas décadas fazendo a iluminação do carnaval de rua de Curitiba. O show de luzes na inauguração da Arena da Baixada, em 1999 teve sua assinatura. A Paixão de Cristo esteve sob sua responsabilidade durante 20 anos. O Natal no Palácio Avenida também foi iluminado por ele.
Karam
Beto Bruel tem muita experiência para criar nuances de luz. O grande laboratório para ele se tornar o iluminador que é aconteceu durante a década de 1970. E o responsável por essa oportunidade tem nome e sobrenome: Manoel Carlos Karam (1947-2007).
O extinto Teatro de Bolso, situado na Praça Rui Barbosa, tinha uma programação contínua. Karam criou, em 1973, o grupo Margem. A iluminação de todos os espetáculos foi delegada a Bruel. Ele recebeu apenas uma diretriz: ousar, experimentar, fazer o inusitado. Depois de participar de várias montagens, Bruel receberia, em 1974, um convite de Oraci Gemba. Fazer a luz da montagem Marat-Sade, um desafio, com uma exigência de luz bem mais complexa do que tudo que ele tinha feito até então. "Considero Marat Sade o início de minha profissionalização."
Bruel analisa que, a cada dez anos, acontece um "tremor de terra" em Curitiba, no que diz respeito à cena teatral: surge algum diretor que modifica a ordem e o estar das coisas. Na década de 1970, foram Antonio Carlos Kraide e Oraci Gemba. Fátima Ortiz foi a sensação dos anos 1980. Na década seguinte, Marcelo Marchioro e Edson Bueno. O fenômeno dos anos 2000 foi e continua sendo Felipe Hirsch. Bruel trabalhou com todos eles.
Em 2000, Bruel completou 50 anos e, se não passou por uma crise, ficou um tanto apreensivo diante do peso da idade. "E agora?", perguntava-se. Hirsch montaria, naquele ano, A Vida É Cheia de Som e Fúria, espetáculo baseado no livro Alta Fidelidade, de Nick Hornby, que obteve repercussão em todo o país, mudando as vidas de todos os integrantes da Sutil Companhia de Teatro. Ano que vem, A Vida É... será remontada. Bruel sorri. Logo mais, tem mais um compromisso. "Estou remando, companheiro. Remando."
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