O disco “A Mulher do Fim do Mundo” segue com “Luz Vermelha” e “Pra Fuder”, compostas por Kiko Dinucci. Ambas trazem riffs de guitarra à la Passo Torto, mas enquanto a primeira é mais hermética no que diz, a segunda traz versos escancarados e uma cuíca impetuosa. “É uma música erótica, muito forte. Tem que ter peito e raça pra cantar. É como um grito da liberdade feminina”, define Elza.
Com o arranjo mais tenso do disco, “Benedita” coloca Elza ao lado de Celso Sim cantando sobre o submundo das drogas e a posição marginal das travestis nos grandes centros. “Sou eternamente preocupada com as minorias. A voz desse povo ainda está rouca, não chega onde tem que chegar. Mas eu olho o futuro com muita esperança, porque isso aqui é um país de gente forte, que nem eu, que sabe dar a volta por cima”, diz a cantora, otimista. E respira.
Em “Firmeza”, faixa mais ensolarada do disco, os naipes do Bixiga 70 embalam a troca de ideia entre Elza e Rodrigo Campos. A dissonância retorna com a melancólica “Dança”, assinada por Cacá Machado e Romulo Fróes, que canta junto o refrão. A música fala sobre a inescapável curva que leva o mundo inteiro pro mesmo lugar: “Debaixo do cimento. Não tenho pressa. Não há quem queira dançar.”
Perto do fim, Rodrigo Campos reaparece com “Canal”, um samba quadrado que precede a tristonha “Solto”, de Marcel Cabral e Clima. Nesta última faixa, as guitarras elétricas e a quebradeira rítmica que marca o restante do disco dão lugar a um tradicional conjunto de cordas. A música aponta para o fim do disco com uma ambiência apocalíptica que convida o silêncio e depois a voz rouca de Elza, cantando sozinha: “o que me fez morrer, vai me fazer voltar”.
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