Como toda indústria, o mercado editorial muda conforme as novas necessidades do consumidor. Com a ascensão da chamada classe C, proporcionada pelo bom momento da economia, as editoras também vêm intensificando seus esforços para que esse novo público se interesse em comprar não apenas eletrodomésticos, mas também livros.
A segmentação de mercado não é nova nem aqui, nem lá fora. O que tem mudado é o número de leitores alcançado com tais iniciativas no Brasil, reflexo, entre outros fatores, de um índice maior de brasileiros na escola e da ascensão econômica da chamada nova classe C. Para se adequar a esse público, as estratégias das editoras incluem a criação de selos específicos e o barateamento do preço com produção mais básica.
A Companhia das Letras lançou, no ano passado, o Paralela, selo dedicado a atrair um outro público que não o consumidor convencional de seus livros. O primeiro volume da Paralela, O Sinal, um livro de Thomas de Wesselow sobre o Santo Sudário, de apelo religioso, já marcava a diferença. O selo também vem encampando títulos que saíam pela coleção policial da casa.
"A gente produz livros em alguma medida mais acessíveis. Pela nossa experiência, a recepção foi boa. Os livros da Patricia Cornwell, por exemplo, na Companhia custavam em média R$ 50 e vendiam de quatro a cinco mil exemplares. O primeiro romance dela pela Paralela, Scarpetta, custa R$ 34,50 e vendeu mais de 7 mil exemplares", avalia a editora Thais Pahl, da Paralela.
Outra forma de mirar em um público com menor poder aquisitivo é investir em coleções de bolso, caminho desbravado pela gaúcha L&PM há uma década e meia. "Já fazíamos isso antes da Dilma. A partir da logística montada de colocação dos nossos displays em virtualmente qualquer estabelecimento, de revistaria a cafeteria, de bar a supermercado, conseguimos um reconhecimento não no sentido alegórico. A coleção tem 1,2 mil títulos e é referência. A média de preço é entre R$ 10 e R$ 12", diz o editor Ivan Pinheiro Machado.
O mesmo caminho é hoje trilhado pela maioria das grandes editoras. Record, CosacNaify, Companhia das Letras e Objetiva lançaram coleções de bolso. Roberta Machado, diretora comercial da Record, comenta que a editora percebeu que era preciso popularizar não só o fundo de catálogo, como O Diário de Anne Frank, mas também os novos títulos. "O público da classe C quer lançamentos. Não quer aguardar o ciclo de venda até chegar à edição de bolso", constata.
De acordo com a última edição de um levantamento realizado anualmente pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas da USP, encomendado pela Câmara Brasileira do Livro e pelo Sindicato Nacional dos Editores de Livros, o mercado editorial no Brasil publicou 58,2 mil títulos em 2011, 6,28% a mais do que no ano anterior. Mas, refletindo uma nova forma de trabalhar, as tiragens médias têm sido menores embora isso não diminua preços de capa, abate custos com armazenagem e garante mais lançamentos.