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Edney Silvestre: experiências com a narrativa fragmentada | Leo Aversa/Divulgação
Edney Silvestre: experiências com a narrativa fragmentada| Foto: Leo Aversa/Divulgação

Romance

Boa Noite a Todos

Edney Silvestre. Record, 208 págs., R$ 28.

Se a fragmentação já era uma marca das narrativas anteriores do escritor e jornalista fluminense Edney Silvestre, agora ele a leva a um novo patamar. Em Boa Noite a Todos (Record), seu quarto livro de ficção, que acaba de chegar às prateleiras, não é só a narrativa que é fragmentada, mas a própria estrutura da obra. Dividida em três partes, ela mistura gêneros: começa com uma novela, passa para uma peça de teatro e termina com um ensaio, seguido de notas sobre as referências culturais do livro.

"Desde o começo, estou testando minhas habilidades como narrador. E acho que o leitor tem apreciado a diferença entre os livros", afirma Edney Silvestre.

Como em outras obras, a fragmentação da narrativa em si também está presente. É um recurso formal imposto pela protagonista de Boa Noite a Todos, que vem perdendo a memória e se tranca em um quarto de hotel para se matar.

Enquanto se prepara para o ato, tenta recordar a própria vida e seus casamentos – que surgem apenas de forma truncada, já que suas lembranças se apagam e se embaralham. Nesse contexto, a novela inicial tem sua maior parte contada por meio de um fluxo de consciência, técnica literária na qual se tenta reproduzir o pensamento do personagem tal como ele ocorre.

É uma técnica muito utilizada em livros considerados difíceis pelo leitor médio, como A Paixão Segundo G.H., de Clarice Lispector, ou Ulisses, de James Joyce. Para alguém que se consolidou no meio literário como um narrador habilidoso, não é um risco escrever um livro assim?

"Era um risco, sim. Fiquei até surpreso que a editora acreditasse tanto e fizesse uma tiragem de oito mil exemplares", diz Edney. "Mas não acho este o meu livro mais difícil. O mais difícil é A Felicidade É Fácil, porque é uma obra muito cruel, muito dura."

Ao incluir, na última parte do livro, um ensaio em que explica a gênese da obra, Edney nega que quisesse explicá-la ao leitor. "Acho que ele não precisa mais de explicação. O leitor brasileiro tem se sofisticado muito, e a acolhida do livro até aqui mostra isso", afirma o autor, referindo-se ao fato de Boa Noite a Todos ter chegado a entrar na lista dos mais vendidos da Livraria da Travessa.

A estreia de Edney Sil­­vestre como dramaturgo está marcada para breve. A parte teatral do novo livro deve estrear em abril do ano que vem, mas o autor ainda não revela o diretor nem a atriz escolhida para interpretar Maggie.

"Levei quatro anos escrevendo e reescrevendo, por conta dessa coisa de a memória se esfacelando. Tentei dar à fala da Maggie a narrativa elíptica e duvidosa que ela faz para si mesmo", afirma o autor, que tem outras peças na manga.

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