Muitos bares têm ideias originais. Alguns têm a capacidade de se adaptar. Poucos, porém, conseguem aliar as duas coisas sem perder a essência ou quebrar a confiança do cliente. Os nove bares que listamos abaixo conseguiram fazer essa combinação e o resultado é longevidade, criação de um público fiel e o desenvolvimento da vida noturna da cidade.
São bares que abriram na segunda metade do século passado e que sobrevivem ao tempo e às dificuldades para continuar fomentando cultura, convívio e entretenimento em Curitiba.
Hermes Bar
Desde 1961, a casa de esquina da Av. Iguaçu com a rua Dr. Alexandre Gutierrez abriga o Hermes Bar, local que se tornou referência no cenário rock’n roll de Curitiba. Com poucas mudanças no ambiente e na decoração, o bar está nas mãos do quarto proprietário.
Envolvido com música há mais de 25 anos, produzindo shows e bandas, Carlos Papa assumiu o Hermes no início desse ano. “São 55 anos de amor ao rock e minha vontade é manter vivo esse local tão clássico”, afirma o atual proprietário.
Ele não esconde, porém, que a crise atual está dificultando os negócios. O bar, que segue a linha rock-blues-jazz e já abrigou bandas como Blindagem, Relespública e Sabonetes, agora luta para criar novidades a cada dia. “Fizemos a noite do reggae, outra samba rock, uma noite dedicada a bandas de rock da Itália, e assim vai”, explica Carlos.
Ponto Final
O amor à música que Riad Bark tinha em 1987 era maior que a vontade de seguir a carreira de advogado. Não à toa, o bar que abriu naquele ano, o Ponto Final, segue firme no mesmo endereço (Rua Portugal, 145, São Francisco) e nos acordes da MPB soados pelo próprio violão.
O sucesso da casa, segundo o proprietário, vem do amor com que trabalha, da gentileza no atendimento ao cliente e dos amigos – sempre presentes e fazendo boa propaganda. “As amizades que a gente faz aqui não têm preço”, orgulha-se Riad. Nesses 29 anos, ele calcula, mais de 100 casais o procuraram para contar causos familiares em que o bar foi cenário.
Apesar da ampliação em 2004, o ambiente continua fiel ao dos primeiros anos. “Até o tom de verde das cortinas é mesmo”, conta Riad, o dono e a alma do bar. Com um repertório de 3 mil títulos, em média, em que 90% é MPB, ele afirma que não deixa de buscar canções de outros estilos para renovar a lista e variar de vez em quando. Riad já planeja uma grande festa, no ano que vem, para comemorar os 30 anos da casa.
92 graus
Nos anos 90, o punk rock e o hardcore pegavam fogo em Curitiba e não demorou para que o bar 92 graus se tornasse um dos celeiros da cena underground da cidade. Aberto em 1991, por Geraldo Jair Ferreira Junior, o JR, a casa, que teve o primeiro de seis endereços na rua Visconde Rio Branco, virou referência internacional no estilo.
Esse status se consolidou em 1994, quando a banda Fugazi escolheu o 92 graus (o único no Brasil) como um dos 21 locais em que se apresentaria na turnê mundial de lançamento do disco duplo. O show foi gravado e garantiu o bar como destino certo para uma série de bandas estrangeiras - Sick off it all (EUA), Varukers (UK) e muitas outras.
Apesar disso, JR garante que continua na proposta de ajudar as bandas novas que pisam no palco. “A melhor sensação é ouvir uma banda nova mostrando seu som. E são músicas que não tocam na grande mídia”. Com perseverança e amor à música, o 92 graus, localizado na av. Manuel Ribas desde 2012, segue na sua missão: “Adoro ver esses moleques brilhando”, conclui o proprietário.
Lino’s Rock Bar
Era começo de 1980 quando Antônio José Lino comprou um imóvel na Alameda Cabral com a rua Augusto Stellfeld e deixou que a banda Beijo AA Força ensaiasse lá. Foi o início do Lino’s Rock Bar: uma casa para “cabelos coloridos”; um bar punk e relaxado, como define o proprietário.
O espaço, porém, não era bem visto pela sociedade. “Muita pessoas eram contra, achavam que todo punk é maloqueiro. E, pelo contrário, a maioria é gente de bem”, pondera Lino, que inúmeras vezes fez o serviço de buscar bandas e carregar aparelhagem para que o som acontecesse.
Depois de 27 anos, o Lino’s Rock Bar mudou de endereço. A casa, em que bebiam Paulo Leminski e Ivo Rodrigues, do Blindagem, agora se encontra no Boa Vista, com um ambiente mais moderno, mas sem deixar de abrir espaço para bandas locais. “Me orgulho de ver esses jovens tocando, o bar lotado. É gratificante ver a alegria deles.”
John Bull
Os 33 anos de John Bull deram a Gilberto Carvalho, fundador e proprietário da casa, a noção de que é preciso ser fiel ao que se propõe, se quiser ter algum sucesso. Dedicado ao rock, o bar foi criado em 1983 e já passou por seis endereços diferentes.
A casa, que já teve shows inesquecíveis como da banda Mutantes, agora passa por um momento delicado. “Desde que colocamos hip hop na terça-feira, o movimento de final de semana caiu bastante”, analisa proprietário, que associa a queda de público com o desvio da linha do rock.
O John Bull, porém, vem se renovando para resgatar o prestígio. “As pessoas vinham sabendo o que ia tocar no bar. Queremos retomar essa confiança e buscar novos públicos dentro do rock”, projeta Gilberto.
Kapele
Em meio à ditadura militar no Brasil, Siumara Rocha e Osvaldo Sieczko queriam abrir um bar onde pudessem conversar abertamente e debater assuntos que, em geral, não agradariam aos militares. Foi assim que, em 1974, nasceu o Kapelle, na rua Barão do Serro Azul.
Com a morte do marido, 6 anos depois, Mara – como é chamada – teve de assumir todo o controle e ainda suportar o preconceito daqueles que não achavam correto uma mãe viúva ser dona de bar. Porém, a clientela fiel de jornalistas, estudantes e artistas (incluindo Paulo Leminski e Dante Mendonça) não se incomodou e o bar tornou-se um dos primeiros recintos onde as mulheres podiam beber sozinhas, sem serem assediadas.
Hoje nas mãos do filho Christopher Rocha e há 32 anos localizado na rua Saldanha Marinho, o bar continua com a mesma essência. “Dizemos que o Kapele está há 40 anos fora de moda. E esse é nosso segredo: manter o clima antigo e não seguir tendências musicais”, comenta Christopher, que escolheu a MPB como estilo para os dias de música ao vivo e retirou uma letra “L” do nome, para facilitar em buscas nas internet.
Zezito’s
No bairro Água Verde, o nome Zezito’s é conhecido desde 1955, quando José Vieira Negrão abriu uma mercearia-boteco nomeada com o próprio apelido. Depois de 61 anos, a casa está sob comando da terceira geração da família e segue a todo vapor.
Nas mãos de Juca Negrão, filho de seu Zezito, o espaço virou apenas bar, sofreu algumas reformas no primeiro endereço da rua Bento Vianna, mas manteve o balcão e o baleiro que garantem à casa a mesma simplicidade de mercearia.
Há oito anos localizado na rua Dom Pedro I, no Água Verde, Juca faz o social enquanto deixa o comando com os filhos, Caroline e José Mauro Negrão. “Meu irmão cuida das compras e da cozinha, eu cuido da administração e do bar a noite”, conta Caroline.
Além das melhorias no cardápio e do início do buffet de comidas saudáveis no almoço, os netos de seu Zezito ampliaram o cuidado com o meio ambiente. “Nós aproveitamos água da chuva, temos um esquema de coleta e separação de lixo, damos destino correto para o óleo, entre outras coisas”, explica Caroline.
Silzeu’s
Prego, serrote, milho, quirera. Vendia de tudo na Mercearia Iguaçu 2, aberta por Sirty Alves Santos, em 1964, no bairro Vista Alegre. Mas havia uma clientela especial, os mais chegados, que tinham acesso a uma combinação peculiar servida pela dona: pão com omelete e pinga.
Na década de 80, o espaço passou para as mãos do filho, Silzeu Santos, e continuou funcionando como mercearia-bar até 1997 - com o nome Silzeu’s gravado ao lado do da mercearia desde 1989. Famílias como Requião e Pimentel, além de nomes como Luiz Carlos Alborghetti e Ratinho, iam com frequência ao Silzeu’s comer o pepino azedo na folha de parreira ou o bolinho de carne – receita da família usada até hoje.
Com o falecimento de Silzeu Santos, em 2009, quem assumiu a casa foi o filho, Silzeu José Santos – neto de dona Sirty. Além de ampliar as opções do cardápio e promover a mudança de endereço para Santa Felicidade (Via Vêneto), Silzeu mantém o bom tratamento que aprendeu com a avó. “Faço questão de cumprimentar os clientes e é esse clima familiar atrai as pessoas”, comenta, “sou apaixonado pelo que faço”.
El Mago
Quando Samir Hamdar viu a possibilidade de reabrir o El Mago, em 2007, não pensou duas vezes: manteve o nome forte e reinstalou a balada no antigo endereço, na Alameda Dr. Muricy, depois de oito anos fechada.
A casa, aberta em 1992, teve se primeiro endereço na rua 7 de abril, bairro Alto da XV, quando Cristina Sava iniciou uma sociedade com Ali Najar. O pequeno espaço, porém, não suportava a imensa quantidade de pessoas - que tomavam conta das ruas da região – e os proprietários foram obrigados a mudarem para uma chácara no bairro Seminário, em 1995. Depois de um ano, instalaram-se na Dr. Muricy, em uma casa datada de 1927.
Até 1999, ano em que foi fechado, o El Mago se dedicou ao reggae e ao poprock, recebendo bandas como Djambi e Namastê. Nessa nova fase, a casa está mais voltada para a música eletrônica, com especial atenção ao eletrofunk, e recebe em média 600 pessoas por dia.
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