Não há nome mais apropriado para o terceiro álbum de Maria Rita, do que Samba Meu. Apesar de escapar da sonoridade dos dois primeiros trabalhos, o disco preserva a identidade da intérprete.
A voz à capela, na abertura da primeira faixa (que dá nome ao CD), chega a lembrar o vocal solene de "Sobre Todas as Coisas" (Rodrigo Bittencourt), gravada no disco anterior. Aqui, porém, o tom cerimonioso é a maneira de demonstrar respeito (e certa timidez) ao adentrar o universo do samba: "Deixo entregue aos bambas de verdade/ que estão nos morros da cidade/peço a bênção pra passar".
O acanhamento inicial, entretanto, não resiste à segunda música. "O Homem Falou", de Gonzaguinha, é uma das únicas regravações. Ao som de instrumentos como cavaquinho, pandeiro, ganzá, agogô e cuíca, a canção assume o tom de alegria festiva que, de acordo com a cantora, traduz o álbum. Samba tradicional, é certamente a música com maior potencial para causar estranhamento no público cativo da cantora.
A cantora também regravou "Maltratar Não É Direito", uma das seis composições do sambista Arlindo Cruz incluídas no CD. Outra delas é "Tá Perdoado", a primeira música de trabalho e a mais "atrevida" das letras: "E se voltar te dou café/preliminar com cafuné (...)/que a noite será maravilhosa".
Se a sensualidade da mulher madura como a própria cantora definiu está presente, não falta também o lado maternal, em "Cria" (Serginho Meriti/ Cesar Belieny).
"Trajetória" resgata a Maria Rita mais dramática, para felicidade dos fãs da intérprete. Já o lado maroto (que sempre conviveu com o outro) aparece em "Maria do Socorro" (Edu Krieger) e "Corpitcho" (Ronaldo Barcello/ Picolé) essa, bem adequada às recentes mudanças na silhueta da artista.
A unidade do disco fica por conta da última música, "Casa de Noca" (Serginho Meriti/Nei Jota Carlos/Elson do Pagode), que, assim como a primeira, termina à capela e passa um recado. Já à vontade no posto de sambista,"a dona quer respeito". GGGG
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