Se o objetivo do cineasta paulista Maurício Eça era falar sobre as lacunas existenciais presentes na juventude (e até a decadência às vezes intrínseca a essa fase transitória), não foi o que conseguiu em Apneia, seu primeiro longa-metragem, em cartaz nos cinemas do país.
Niilista e com pouca identidade (poderíamos até defini-lo como arrastado), o filme tenta transmitir a complexidade inexistente das relações entre três jovens -- Chris (Marisol Ribeiro), Julia (Thaila Ayala) e Giovanna (Marjorie Estiano) - pertencentes à classe alta de São Paulo. As personagens têm praticamente as mesmas características: são ricas, fúteis, se drogam, bebem muito e, se vislumbram um futuro, ele é raso e nebuloso. Para além das noites intensas, parece não haver qualquer sentimento senão o tédio - tão presente na narrativa que o espectador pode senti-lo da poltrona.
A certa altura, Chris abandona seu apartamento de luxo e vai morar com Julia em um outro edifício não menos suntuoso. A troca de experiências entre elas é tão rasa que se resume ao compartilhamento das várias carteiras de cigarros que consomem. Giovanna, além de participar das festas com as amigas, tenta agradar o namorado, um DJ conhecido da noite paulistana, que a despreza constantemente.
Em meio a cenas de festas e bebedeiras, há inserções atemporais que não dão muito sentido à narrativa. São elas que definem a vida da protagonista Chris, portadora da apneia do sono distúrbio que obstrui e desobstrui a respiração repetidamente. Entre uma cena e outra, alguns recortes identificam momentos do passado da protagonista e causam certo sufocamento. Relacionar esses acontecimentos com seu distúrbio é possível e aparentemente óbvio, mas o roteiro impede e engessa a interpretação para algo mais palpável e notório.
Sem imersão e clareza, Eça não se aproxima de filmes que têm como proposta retratar as insuficiências da juventude, como Kids (1995), de Larry Clark, e Palo Alto (2014), de James Franco. Apesar do roteiro confuso, dos diálogos inconsistentes e dos muitos clichês -- brigas com reconciliações praticamente instantâneas, uso abusivo de álcool e drogas e sexo sem compromisso utilizados ao longo de Apneia, a fotografia do filme destaca-se positivamente, assim como a atuação de Marisol Ribeiro. GG
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