Em busca da batida universal

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A coletânea on-line Hy Brazil Vol. 1, uma pequena reunião de jovens representantes da nova música eletrônica brasileira feita pelo produtor carioca Chico Dub, gerou surpresa ao chegar à revista norte-americana Spin este mês. As músicas mostraram um som em sintonia com o mundo, diferente do que os estrangeiros se acostumaram a identificar como "brasileiro" – na e-music, representado pelo funk carioca e, mais recentemente, pelo tecnobrega paraense. Se faixas como as de Leo Justi, Jaloo, Strausz, Omulu e Psilosamples evidenciaram um tempero brasileiro, o gosto se mostrou universal, conforme conta Chico.

"Quis montar um panorama diverso e mostrar que a música eletrônica brasileira não precisa obrigatoriamente trazer samples de percussão de escola de samba, um agogô, algum elemento rítmico que diga, de cara, que foi feita no Brasil", diz o produtor, por telefone. "Esses 14 nomes poderiam estar lançando discos na Escócia, na Alemanha, em qualquer lugar. Quis evidenciar isso."

Não à toa, o jornalista Philip Sherburne, da Spin, que fez uma entrevista com Chico para a publicação, percebeu elementos de house do Brooklyn (Nova York) e Berlim na faixa "No Concreto, a Flor", do DJ paulista Bruno Real, há 12 anos radicado em Curitiba (ouça o trabalho no site brunoreal.bandcamp.com).

A cidade, explica Real, é insumo para sua música, influenciada por house, bass, dub e outros gêneros, e construída principalmente sobre sua coleção de cerca de 5 mil samples. O orientador conceitual das suas criações é o projeto O Homem, a Cidade e Suas Respostas, que encontra inspiração nos personagens noturnos das corridas de longa distância que pratica.

"Daí vem a coisa suja, noturna. Mas não se trata do fator ‘Curitiba’, e sim da relação humana com a cidade", explica o DJ – que, tal qual em suas corridas, cria solitariamente, sem uma cena autoral ou estética local com a qual se identifique.

"Existe a consciência de uma batida global", teoriza o DJ. "Quem está correndo atrás está se atraindo. Virou uma inteligência coletiva."

O filtro para o volume frenético de criações que surgem desta conversa é a própria rede – daí a centralidade de curadores como Chico Dub, há anos um garimpeiro de novos nomes para o festival Novas Frequências e para a edição paulista do Sónar (cancelada em 2013).

"É tanta coisa que fica difícil ter um filtro. No exterior, não se tem a menor ideia do que está acontecendo aqui", explica Chico. "Precisamos de movimentos como esse, de difusão de música autoral carregada de brasilidade. Mas sem estereótipos."