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Nunca se falou tanto de cinema em Curitiba como nos últimos anos. E não apenas por conta do aumento considerável do número de salas de projeção. Matriculada nos diversos cursos técnicos e teóricos espalhados pela cidade, uma nova safra de aspirantes a cineasta se multiplica e começa a mostrar suas primeiras produções. No entanto, e apesar do bom momento, a cena do audiovisual local ainda carece de um evento emblemático, que sirva de ponto de encontro para essa geração.

Na verdade, esse espaço já existe: é o Festival de Cinema, Vídeo e DCine de Curitiba (FCVDC), cuja nona edição começa amanhã, no Cine Plaza, com a exibição do longa gaúcho Sal de Prata. Mas, ao contrário de outro acontecimento importante do calendário cultural da cidade, o Festival de Teatro, o FCVDC até hoje não conseguiu mobilizar o público local. Voltado principalmente para iniciados, o evento ficou ainda mais enxuto nas duas últimas edições, quando sofreu uma brusca redução de recursos.

Em 2004, por exemplo, foi produzido com R$ 50 mil, enquanto o orçamento original previa R$ 500 mil. "Ficamos reféns dos humores da política", lamenta a diretora geral Cloris Ferreira, referindo-se ao corte do patrocínio da Copel.

Este ano, porém, o FCVDC pretende dar "a volta por cima", nas palavras da própria Cloris. Sua empresa, a Araucária Produções, aliou-se a Calvin Entretenimento, responsável justamente pelo já citado Festival de Teatro. A parceria visa à adaptação do evento a um novo formato, descentralizado e focado também no chamado "grande público". "O festival deve ser atraente para as pessoas que não entendem de cinema. Queremos provar que curtas e médias-metragens também podem ser interessantes", afirma o produtor Victor Aronis, da Calvin.

Além de uma divulgação mais forte, a versão 2005 do evento traz como novidade uma série de mostras paralelas realizadas em várias salas da cidade (leia quadro). A idéia é conquistar audiências de perfis diferentes e separar as sessões por formato audiovisual. "Nos anos anteriores, o espectador era obrigado a assistir, na mesma noite, curtas, médias e longas-metragens. Isso demandava muito tempo, a pessoa ficava até quatro horas dentro do cinema", lembra Aronis.

Outra mudança é o fim do extenso e caro catálogo com a programação, agora substituído por um guia impresso em papel jornal – que pode ser distribuído para um número maior de possíveis espectadores. E o melhor de tudo, o preço dos ingressos: R$ 2 para as mostras competitivas e de longas-metragens. Nos eventos paralelos, a entrada é gratuita.

As campanhas publicitárias do FCVDC começaram a ser veiculadas apenas na semana passada, pegando de surpresa os cinéfilos que já davam como morta a edição deste ano. Aronis explica a demora com argumentos de ordem econômica. "Ao contrário do público de teatro, o de cinema não compra ingressos antecipados. Tampouco existem lugares numerados. Manter no ar uma mídia antecipada seria um gasto de dinheiro injustificado".

Pelo que se vê, o Festival de Cinema de Curitiba deixou de lado a pretensão de ser "nacional" e se voltou para a cidade. O que deveria ter acontecido desde o início, pois ninguém melhor do que a comunidade para legitimizar um evento cultural dessa importância. Fica a dúvida se, desta vez, o público vai aderir.

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