Livro
De Bom Jesus a Milagres
Claudio Edinger. BEI Editora.
176 págs., R$ 120. Fotografia.
Palestra
Capturando o Invisível O Trabalho Autoral na Fotografia, com Claudio Edinger. Auditório Positivo (R. Itupava, 985 Alto da XV), (41) 3252-1093. Hoje, às 9 horas. Mais informações no site www.omicronestudio.com.br/stopfotografico.
O fotógrafo Claudio Edinger lança neste sábado, às 9 horas, no Auditório Positivo, em Curitiba, o seu 14.º livro, De Bom Jesus a Milagres (BEI Editora). A obra é resultado de 7 anos de trabalho no sertão da Bahia. Nas contas de Edinger, foram 20 mil quilômetros percorridos em seis viagens à região, entre 2005 e 2012. A vontade de registrar o sertão baiano, segundo o premiado fotógrafo nascido no Rio de Janeiro, mas com uma carreira internacional consolidada, foi para mostrar "o lugar onde o Brasil foi descoberto, o lugar que é geográfica e emocionalmente (talvez) o coração da nação". O lançamento do livro acontece durante o encontro promovido pelo Omicron Centro de Fotografia, onde Edinger irá ministrar a palestra Capturando o Invisível O Trabalho Autoral na Fotografia. O fotógrafo também vai participar da leitura de portfólio na categoria documental. Leia a entrevista concedida por Edinger à Gazeta do Povo por e-mail.
Por que o sertão da Bahia interessou ao senhor?
Depois de morar 20 anos fora do país [em Nova York] voltei procurando descobrir o que é ser brasileiro, procurando o lugar onde o Brasil é mais Brasil, se é que isto é possível. Fotografei o Rio de Janeiro durante três anos e São Paulo durante quatro. Quis pesquisar o lugar onde o Brasil foi descoberto, o lugar que é geográfica e emocionalmente (talvez) o coração da nação.
O sertão da Bahia é um microcosmo do Brasil. Serviu de inspiração para grandes artistas nacionais e internacionais: [os escritores] Guimarães Rosa, Euclides da Cunha, Mario Vargas Llosa, Jorge Amado, [e os fotógrafos] Pierre Verger, Marc Ferrez e muitos outros. É uma região muito rica iconograficamente, e é, ao mesmo tempo, uma região cheia de riquezas naturais e também de conflitos. As cores do sertão são uma espécie de representação cênica do que somos. [O pintor Paul] Cézanne disse que a cor é onde o cérebro encontra o universo. No sertão, a cor é onde a necessidade extrema encontra a satisfação lúdica. Quanto tempo levou para produzir o material para o livro?
Venho fotografando o sertão desde 2000, com fotos em preto e branco. Comecei a fotografar para o livro em 2005 e este ano foi minha última viagem pesquisando imagens. Foram, ao todo, seis viagens, sete anos, 2 mil chapas de filme, 400 fotos de Polaroid e 20 mil quilômetros percorridos.
Seus livros saíram no exterior? Como foi a repercussão?
Procuro sempre lançar livros que publico lá fora. É um processo cumulativo. O interesse tem aumentado muito, os livros têm ganhado vários prêmios e distinções. Mas é como diz no para-brisa traseiro de um fusca aqui em Sampa: "O barato é grande... mas o processo é lento...".
O mercado de fotografias de arte vem crescendo no país. É possível viver da venda de fotografias fine art?
É possível, sim. Vivo disso. Os tempos têm mudado muito, a fotografia está produzindo trabalhos geniais e, por isso, tem crescido tanto. E virou um bom investimento também. Temos fotos sendo vendidas por milhões lá fora. Uma foto, por exemplo, de Cindy Sherman, que até há alguns anos custava US$ 10 mil, foi vendida recentemente por US$ 3,9 milhões.
O que o senhor acha dessa proliferação de fotografias produzidas a partir de aplicativos, celulares e equipamentos digitais?
Acho sensacional, revolucionário. Vivíamos uma época onde éramos iletrados fotograficamente falando, analfabetos mesmo. Isso hoje acabou. Qualquer criança produz e posta fotos, acelerando demais o processo todo de aprendizado visual.
Teremos em breve trabalhos fotográficos cada vez mais extraordinários por isso. A fotografia está só engatinhando, nossa arte é uma das mais jovens do planeta, nem tem 200 anos ainda. Compare isso com a pintura, música clássica ou com a literatura.
Como fica o mercado para os fotógrafos profissionais?
Muito competitivo. Os profissionais têm de melhorar constantemente, estudar muito. Não haverá mais lugar para profissionais mais ou menos. Não conseguirão sobreviver. Pelo menos eu penso assim. Aliás, como é o caso com todas as outras profissões: advogados, médicos, engenheiros, arquitetos...
O senhor conhece fotógrafos paranaenses?
Conheço alguma coisa. Helmut Wagner, Nani Góis, Sergio Sade... Adoro o trabalho da Juliana Stein. Gosto demais também dos trabalhos de Haruo Ohara e de Sergio Ranalli, de Londrina.
Qual é a sua expectativa para o lançamento do livro e a palestra que vai ministrar em Curitiba?
A fotografia tem viajado o Brasil. Que eu saiba, temos o maior número de festivais de fotografia em um único país. Isso é muito bom, muito saudável, é importante educar nossa população fotograficamente. Nos comunicamos cada vez mais através de fotos. O Brasil tem uma vocação natural para ser um dos grandes e mais importantes produtores de imagens. Isso já está começando a acontecer. Somos um povo muito criativo, aberto a novas tecnologias, temos muita fome do novo.