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No começo, Steven Spielberg era o rei do cinema de aventura, em filmes como ET – O Extraterrestre e a série Indiana Jones. Mas o Peter Pan do cinema (como ficou conhecido) queria o reconhecimento de seus pares diretores e passou a fazer filmes sérios. As primeiras produções dramáticas lhe renderam elogios (A Cor Púrpura) e Oscars (A Lista de Schindler e O Resgate do Soldado Ryan). A partir daí, o cineasta americano dividiu sua carreira entre a fantasia e o drama.

A faceta séria do diretor volta ao comando em Munique, principal estréia de hoje nos cinemas brasileiros. Com roteiro dos premiados Tony Kuschner (detentor de um Pulitzer, pela peça Angels in America) e Eric Roth (Oscar por Forrest Gump), Spielberg apresenta a história de um grupo de agentes do Mossad (a polícia secreta de Israel) formado para vingar a morte de atletas israelenses na Olímpiada de 1972, em Munique, em um atentado realizado pelo grupo terrorista palestino Setembro Negro. A ficção é baseada no depoimento de um ex-integrante do Mossad, que teria participado de ações semelhantes na época. No elenco, destacam-se Eric Bana (Hulk) e Daniel Craig (o novo James Bond).

Munique trata de um tema político, mas não há qualquer centelha de discurso no filme. Não que o diretor seja obrigado a tomar alguma posição, mas ele e os roteiristas poderiam ter se aprofundado mais nas questões que retratam. A produção revela um Spielberg completamente em cima do muro – mas se o cineasta não queria desagradar ninguém, porque então se meter em assunto tão espinhoso?

Os personagens são mal-construídos. Mesmo sobre Avner (Bana), a figura central da história, convocado para ser líder do grupo de cinco vingadores, não se sabe muito – foi guarda-costas pessoal da ministra Golda Meir (que autoriza a ação militar), seu pai foi um herói de estado e só isso. Ele é um agente do Mossad (a polícia secreta de Israel), visivelmente inexperiente, mas mesmo assim foi escolhido para o importante trabalho. Fica quase tudo sem explicação, até mesmo suas motivações para largar a mulher e filho por uma missão que não sabe quando e como acabará.

Nada é revelado do passado de Steve (Craig) e Hans (Hans Zischler). Dos outros dois agentes, Robert (Mathieu Kassovitz) e Carl (Claran Hinds), é contado uma ou outra coisa. Mas o filme tem duas horas e quarenta minutos. Com essa duração toda, não se poderia "perder" um pouco de tempo com o desenvolvimento dos personagens?

A trama vai seguindo de acordo com os meticulosos preparativos para cada assassinato dos mentores do atentado de Munique. As duas primeiras ações ainda trazem alguns momentos de tensão, como a possibilidade de morte de uma menina, filha de um alvo – apesar de o público saber que o diretor que trocou armas por walk-talkies numa nova versão editada de ET nunca mataria uma criança em um filme. Depois, tudo vai ser tornando cansativo demais para o espectador – apenas planejamentos e mortes. Há poucos questionamentos por parte dos personagens, quase não é revelado o que eles pensam sobre o que estão fazendo.

Como tem acontecido em suas últimas produções (O Terminal, Minority Report, A.I. – Inteligência Artificial), Spielberg demonstra mais uma vez que não sabe mais finalizar uma história. São vários possíveis finais, e quando se pensa que o suplício acabou, o diretor cria outra cena e alonga um pouco mais a trama capenga. Os próximos projetos do cineasta são um filme sobre o presidente americano Abraham Lincoln (que será vivido por Liam Neeson) e um novo Indiana Jones. É quase impossível que sejam piores do que Munique, mas com o recente Spielberg nunca se sabe. GG

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