O quarteto carioca Los Hermanos é avesso ao culto à celebridade. Para se ter uma idéia de quão longe vai essa postura, os encartes dos seus três últimos discos não trazem uma foto sequer dos integrantes, Marcelo Camelo (voz e guitarra), Rodrigo Amarante (voz, guitarra e baixo), Bruno Medina (teclados) e Rodrigo Barba (bateria). A opção pelo não-marketing pessoal, ainda que essa não tenha sido a intenção do grupo, acabou tornando-se uma excelente forma de fortalecer a imagem de uma banda que, na contramão do meio ao qual pertence, prefere que a obra fale por si mesmo, lhes dando a liberdade de um relativo anonimato.

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"Quero poder ir a uma loja de ferragens, comprar fio para uma instalação elétrica da minha casa, sem ter de ficar me sentindo vigiado", explica o tecladista Bruno Medina, em entrevista exclusiva ao Caderno G. Ele e seus três companheiros de banda estarão hoje em Curitiba, para o show de lançamento de 4, quarto CD do Los Hermanos, que acontece às 21 horas, no Guairão.

Com uma base de fãs bastante sólida em Curitiba, assim como no resto do país, o quarteto pela primeira vez toca em um um teatro na capital paranaense, onde já esteve diversas vezes, mas sempre para apresentações em casas de shows. A opção por um "palco mais nobre", que estabelece um relativo distanciamento entre espetáculo e platéia, parece sob medida ao se ouvir com atenção as canções que integram 4.

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Mais introspectivo e cheio de nuances sonoras do que Ventura, registro anterior da banda, o disco não é exatamente composto por músicas feitas para pular. Embora o CD também tenha um viés mais rock-and-roll, representado por faixas como "O Vento", ótimo primeiro single do disco, e "Condicional" (ambas compostas por Rodrigo Amarante), um número substancial de composições pedem uma audição mais atenta, para que sejam sorvidas como merecem.

Boa parte dessas canções com sonoridades intimistas e letras de poética elaborada trazem a assinatura de Marcelo Camelo. Entre elas, incluem-se as belas "Dois Barcos" ("Quem bater primeiro a dobra do mar/ dá de lá bandeira qualquer, aponta pra fé e rema) e "Fez-se Mar" (Clareia no tempo/ cadeia das horas/ eu meço no vento/ o passo de agora), nas quais percebe-se na criação de Camelo uma aproximação ainda maior da MPB (sobretudo de Chico Buarque), algo já perceptível nos trabalhos anteriores da banda.

As diferenças de 4, muito bem recebido pela crítica e já entre os discos mais vendidos no país, não parecem ter causado maior estranhamento junto ao público fiel dos Los Hermanos. Medina conta que, já no primeiro show de divulgação do álbum, realizado este mês em Vitória (ES), o público cantava várias das novas canções. O tecladista lembra, entretanto, que a apresentação de hoje não vai limitar-se ao repertório do disco novo, o que deve fazer a felicidade dos fãs mais apaixonados dos Los Hermanos, que costumam cantar, com fervor quase religioso, todas a música do quarteto, como se fossem hinos.

Sobre essa espécie de messianismo involuntário representado pela banda desde, principalmente, o culto criado em torno do segundo CD, o corajoso Bloco do Eu Sozinho, Medina se diz cuidadoso. "Não queremos ser a voz de uma geração, ou representar a ‘salvação do rock independente’, como alguns costumam nos chamar. Desejamos, é claro, que as pessoas gostem do nosso trabalho, porque o fazemos com amor, mas é a música que nos interessa", conclui.

* Serviço – Los Hermanos. Show de lançamento do CD 4. Hoje, às 21 horas, no Teatro Guaíra (grande auditório), Pça. Santos Andrade, s/n.º. Ingressos: R$ 80 (platéia até a fila G), R$ 60 (a partir da fila H), R$ 50 (1.º balcão) e R$ 40 (2.º balcão). Não são aceitos cheques e estudantes pagam meia.

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