O último telefonema feito pelo chefão do narcotráfico colombiano Pablo Escobar antes de ser abatido a tiros em Medellín foi para seu filho, e muitos imaginavam que Juan Pablo Escobar seguiria os passos do pai.
Mas 16 anos depois, Juan Escobar pede perdão às vítimas do pai em um documentário que estreia esta semana no festival de cinema de Mar del Plata, na Argentina.
Juan Pablo Escobar fugiu da Colômbia em 1994, um ano depois de seu pai ser executado a tiros por forças de segurança colombianas. Desde então ele vive tranquilo em Buenos Aires, onde é arquiteto, usando o nome de Sebastián Marroquin.
"Como membros da família Escobar, temos que assumir a responsabilidade pelo que aconteceu e pedir perdão por tudo o que a Colômbia sofreu em função dos crimes de meu pai", disse ele à Reuters.
Marroquin, de 32 anos, disse que decidiu abrir mão do anonimato em um esforço para promover a reconciliação em seu país natal, onde as forças de segurança continuam a combater traficantes de drogas que ocuparam o vazio deixado pelos grandes cartéis dos anos 1980 e 1990.
No filme "Los Pecados de Mi Padre" (Os pecados de meu pai), Marroquin conta a história de Pablo Escobar e encontra os filhos de duas das mais destacadas vítimas de seu pai: o ex-ministro da Justiça Rodrigo Lara Bonilla e o candidato presidencial Luis Carlos Galan.
Lara Bonilla e Galan ousaram bater de frente com Escobar e pagaram pela ousadia com suas vidas. O filho mais velho de Galan disse que o encontro com o filho de Escobar em Bogotá ajudou sua família a encerrar aquele capítulo triste de suas vidas.
"Num primeiro momento nos sentimos muito nervosos e incomodados. Mas no final ficamos aliviados e nos libertamos dos sentimentos de ódio", explicou Claudio Galan. "Agradecemos a ele por isso".
BANDIDO PODEROSO
Pablo Escobar foi o chefe supremo de uma das mais poderosas organizações criminosas do mundo e o foragido mais procurado da Colômbia.
Milhares de pessoas morreram na violência desencadeada por seu cartel de Medellín. De acordo com a revista Forbes, a fortuna de Escobar chegou a mais de 3 bilhões de dólares.
O filme oferece um vislumbre da vida familiar de Escobar. Marroquin recorda como o chefão do narcotráfico lia histórias para sua irmã menor na hora de dormir e o ensinou a andar de bicicleta.
Ele também descreve as casas da família, as viagens ao redor do mundo e como seu pai encomendou mais de 200 animais exóticos, que foram enviados de avião a sua fazenda, a Hacienda Nápoles.
"Eu me sentia como se tivesse nascido na Disneylândia. Eu curtia aquele clima mágico, mas ele não durou", disse ele.
Tudo mudou quando Escobar ordenou o assassinato de Lara Bonilla. No dia seguinte, a família fugiu para o Panamá e, mais tarde, foi viver escondida em Honduras.
Quando eles retornaram à Colômbia, tiveram medo de ser sequestrados ou mortos pelos muitos inimigos do chefão. Marroquin disse que a vida se tornou insuportável quando as forças de segurança apertaram o cerco a Pablo Escobar, antes de matá-lo.
Durante uma invasão da polícia, a família foi obrigada a sobreviver por uma semana com apenas uma panela de dobradinha embolorada, apesar de ter 2 milhões de dólares em dinheiro vivo nas malas.
"Isso faz você perceber que o dinheiro das drogas não pode salvá-lo", disse Marroquin. "Tínhamos 2 milhões de dólares na mão, mas estávamos quase morrendo de fome e não podíamos comprar nem sequer um quilo de arroz".
A repressão implacável movida pelo governo vem melhorando a segurança na Colômbia nos últimos anos, mas assassinatos e sequestros ligados ao narcotráfico continuam a devastar a vida do maior produtor mundial de cocaína, mais de 15 anos após a morte de Escobar.
Marroquin espera que o filme incentive o diálogo na Colômbia.
"Chegou um momento em que preservar minha vida se tornou menos importante que lutar por algo maior", disse ele. "Posso ser um sonhador, mas fiz esse filme devido a essa convicção".
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