Cena do filme "Gran Torino"| Foto: Divulgação

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Cena do filme
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Com uma energia invejável para os seus quase 79 anos, que completa no próximo dia 31 de maio, o diretor Clint Eastwood tem se mostrado capaz de lançar dois filmes por ano.

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Foi assim em 2007, quando levou às telas a dupla de filmes abordando a campanha militar dos EUA no Japão na 2a Guerra, "A Conquista da Honra" e "Cartas de Iwo Jima". E também em 2008, quando realizou os dramas "A Troca", indicado para três Oscar, e "Gran Torino", que estreia nesta sexta.

Passando batido praticamente de todas as premiações nos EUA, sem nenhuma indicação ao Oscar, "Gran Torino" só foi lembrado pelo National Board of Review, entidade que reúne diversos estudiosos e críticos norte-americanos e que entregou a Clint Eastwood seu troféu de melhor ator e ao novato Nick Schenk, o de melhor roteiro original no ano passado.

Esta ausência de premiações não significa falta de qualidades do filme, que é um dos mais sólidos trabalhos do ator e diretor. Seu personagem aqui, Walt Kowalski, é a própria encarnação da velha América, nostálgica de seu papel de heroína do mundo, que teve seu auge na 2a Guerra Mundial e começou a decair pouco depois, na Guerra da Coreia. Uma guerra que tem, aliás, tudo a ver com a amargura deste personagem.

Os pesadelos de Walt são povoados pelos rostos dos soldados coreanos que matou naquela guerra. Aposentado, viúvo e irascível, ele vê sua vizinhança em Detroit ser ocupada, paulatinamente, por outros rostos orientais, como os dos hmongs.

Povo espalhado entre China, Tailândia e Laos, os hmongs apoiaram os norte-americanos em outra guerra, a do Vietnã. Pagaram caro por isso. Com a vitória dos vietcongs comunistas, nos anos 1970, os sobreviventes tiveram de refugiar-se nos EUA.

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A densa história de "Gran Torino" registra também um comentário econômico. Walt sente falta de um tempo em que a América era a economia mais dinâmica do mundo e Detroit, sede da indústria automobilística, uma de suas principais bases.

Ele mesmo foi funcionário da Ford e guarda na garagem uma pérola daqueles dias - um Gran Torino 1972 impecável, cuja pintura ele lustra cuidadosamente todos os dias. Ao lado da cachorra Daisy, o carro é seu mais sólido afeto, já que com os filhos e netos ele não consegue encontrar qualquer denominador comum. E vice-versa.

Este ferrenho conservador contém um pouco de cada um daqueles personagens a que Eastwood, em sua longa carreira, soube dar personalidade única. Walt Kowalski é uma espécie de síntese e também de atualização do implacável detetive Dirty Harry, do treinador Frankie Dunn de "Menina de Ouro" (2005), do Bill Munny de "Os Imperdoáveis" (1992) e de tantos outros homens sem nome de seus inúmeros faroestes, capazes de abrir mão das boas maneiras e até da higiene, da ética, nunca.

Kowalski não se esforça para ser simpático. Faz cara feia o tempo todo, grunhe em vez de falar e dispara uma impressionante coleção de xingamentos politicamente incorretos toda vez que cruza com seus vizinhos orientais e também com os negros. Isso não impede que ele se aproxime aos poucos da família que mora ao seu lado, a partir dos adolescentes da casa, Thao (Bee Vang) e Sue (Ahney Her).

O relacionamento entre eles começa errado, quando Thao, pressionado por um primo gângster, tenta roubar o Gran Torino da garagem. Como punição, sua mãe e avó, seguindo os preceitos de sua cultura, obrigam-no a prestar serviços para Walt - que a princípio rejeita, mas não consegue recusar.

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O filme progride na direção de um confronto urbano bem violento e realista, em que pessoas de bem são cercadas pelo crime organizado. Se a ética é o último reduto dos fortes, Clint Eastwood mostra-se ainda capaz de representar o heroi para todas as épocas e todas as situações.